sexta-feira, 28 de julho de 2017

Você pode ser um pai-helicóptero e não sabe

 

Quem ama seus filhos tende a protegê-los. Isso é fato. Trata-se de uma atitude que faz parte da relação entre os mais velhos e os mais novos. Entretanto, há um limite para esse cuidado. Quando este zelo ultrapassa a fronteira do bom senso, podem surgir efeitos colaterais que não são bons nem para os pais nem para os filhos. Os pais que agem dessa forma exagerada são chamados de “pais-helicóptero”. O nome faz menção ao monitoramento quase constante que eles exercem sobre os filhos, como se estivessem sempre sobrevoando a vida dos mais jovens desde a infância, na intenção de socorrê-los diante de qualquer imprevisto, fazendo de tudo para afastá-los dos perigos e sofrimentos.
 
Raiz do problema
 
Para a psicóloga Karin Cristina da Silva, de 48 anos, que atua na área clínica, a postura de superproteger os filhos é, infelizmente, uma característica da sociedade atual: “Pais super-protetores, geralmente, são motivados pela ansiedade que provoca pensamentos disfuncionais e os faz imaginar que algo ruim poderá acontecer a seus filhos se ficarem sozinhos, se pisarem no chão, se forem à escola apenas com os amigos, etc. Alguns chegam a acompanhar seus filhos mesmo quando já são adolescentes. Outros não conseguem ficar em paz enquanto os filhos, já adultos, não chegam em casa”, explica. 

Para a psicóloga, uma das raízes do problema está nos traumas que os pais ainda carregam. “Eles podem ter sido negligenciados em suas infâncias e, por não querer que seus filhos passem pelo mesmo trauma, acabam não reconhecendo esse comportamento controlador. Eles costumam justificar suas atitudes alegando que querem sempre o melhor para os filhos, mas, como consequência, superprotegem e os impedem de adquirir autonomia e fazer suas escolhas”, pontua. 

Faltando um pedaço
 
Como os “pais-helicóptero” fazem coisas demais pelos filhos, essas crianças crescem sem uma ética de trabalho saudável e habilidades básicas, sem as quais o jovem não é capaz de realizar muitas das tarefas exigidas pelas suas atividades profissionais. “É como se lhes faltasse um pedaço. Os pais privam os filhos de qualquer consequência significativa por suas ações. Com isso, eles perdem a oportunidade de aprender lições de vida valiosas com os erros, o que contribuiria para a sua inteligência emocional. Quando os pais protegem demais seus filhos de algum conflito que possam ter com os colegas de escola, a tendência é de que no futuro, quando crescerem e se tornarem adultos, não saberão resolver as dificuldades com um colega de trabalho ou um chefe”, observa a especialista. 

Crescimento pessoal
 
Se pararmos para pensar um pouco, os “pais-helicóptero”, com a atitude de sempre girar em torno dos filhos, praticamente os embrulham em um plástico-bolha para que nada de mau lhes aconteça e estão, na verdade, prejudicando as chances de sucesso deles. “Dessa relação, surgirão pessoas que começam e não terminam estudos e adolescentes que buscam nas drogas mais prazeres, por exemplo, entre outras consequências. Ou ainda maridos e esposas que não aguentam as dificuldades de um casamento e também adultos inseguros por causa da baixa autoconfiança, passivos, esperando que as pessoas venham cuidar de suas necessidades e que, quando isso não acontece, ficam irritados e frustrados”, explica a especialista.
Ela afirma que a atenção dada à criança é necessária, mas é preciso possibilitar a ela que erre e corrija seus erros, tornando-a autônoma e capaz de fazer suas escolhas. “O erro possibilita o amadurecimento e a reflexão para o crescimento pessoal. Os pais precisam demonstrar que confiam em seus filhos. Orientar, sim, manipular não. Se houver muita dificuldade em resolver esse problema, uma saída é procurar ajuda de um profissional que vai orientá-los a como vencer esses desafios interiores. Precisamos deixar os filhos frequentarem a academia do crescimento pessoal para que possam desenvolver segurança em si mesmos, determinação, resistência, frustração e foco. Quando adquirimos isso no decorrer da vida, tudo torna-se mais fácil e menos dolorido, porque o processo acompanha o amadurecimento das pessoas”, conclui. 

Consequências da superproteção
 
Para a psicóloga Karin Cristina da Silva, as crianças que foram superprotegidas tornam-se indecisas, têm baixa autoestima, incapacidade para enfrentar situações e dificuldade em tomar decisões sozinhas. À medida que crescem e entendem o mundo ao seu redor, podem culpar os pais pela frustração que sentem ao perceber que são incapazes de fazer qualquer coisa sozinhas. Podem ter pensamentos negativos sobre a vida e quanto a si mesmas e quando chegam à adolescência ou à fase adulta podem ter depressão. Elas acabam se apoiando nos outros para que tomem decisões por elas, porque estão acostumadas com isso. Muitas entram em relacionamentos tóxicos e criam dependência emocional. 

Tipos de pais supercontroladores
 
Segundo a psicóloga, a primeira categoria de “pais-helicóptero” é a chamada “helicópteros de combate”. Ela se caracteriza em voar para lutar pelos seus filhos em qualquer situação. A segunda modalidade corresponde aos pais conhecidos como “helicópteros de tráfego”: aqueles que guiam suas crianças, marcam o caminho que consideram mais adequado e ajudam os filhos a tomarem decisões apropriadas ao longo de suas vidas. O terceiro tipo de pais superprotetores formam o grupo de “helicópteros de resgate”. A função deles é tirar seus filhos de situações de crise e levá-los para um lugar seguro ou proporcionar a eles abastecimento para que voltem a se levantar e a se colocar em pé.

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