domingo, 25 de agosto de 2019

Empreender é o caminho para gerar renda

Por Por Rê Campbell/ Fotos: Demetrio Koch e Divulgação/ Ilustração: Edi Edson

A infância e boa parte da juventude de Sueli Benvenuto, de 34 anos, foram marcadas por dificuldades financeiras. Quando seus pais se separaram, a mãe dela assumiu a responsabilidade de sustentar os sete filhos. “Minha mãe era empregada doméstica, nós não tínhamos muitas condições”, lembra. Para ajudar a compor a renda familiar, Sueli começou a trabalhar aos 13 anos. “Cuidei de crianças e entreguei panfletos na rua.”

Já adulta, ela atuou no setor de vendas em diferentes empresas. “Minha sede de crescer era tão grande que eu era promovida em poucos meses. Fui coordenadora, gerente e supervisora.” Na época, ela conciliava o trabalho com a faculdade de administração. “Saía de casa às cinco da manhã e só voltava depois da meia-noite. Era cansativo e meu dinheiro era quase todo usado para pagar os estudos. Eu ficava revoltada com a situação”, relata.

Ideia de negócio

Perto do fim da faculdade, Sueli trabalhou como consultora executiva em uma empresa de tradução. “Eu conseguia grandes vendas, mas a dona me tratava mal e eu ganhava pouco. Mudei de empresa, mas o ambiente também era ruim”, explica. Ela revela que chegou a pensar em abrir a própria empresa de tradução. Entretanto faltava coragem e dinheiro. Após mais um ano, Sueli foi contratada por uma empresa multinacional. “Acreditei que finalmente minha vida mudaria, mas minha função era trocar toner de impressora”, detalha.

Atitude

O salário baixo e a pouca perspectiva de crescimento profissional levaram Sueli a buscar uma alternativa. “Eu tinha que tomar uma atitude. Conversei com Deus e decidi abrir minha empresa de tradução na sala de casa”, diz. Ela admite que o início foi difícil.

Entre os desafios estavam atrair clientes e encontrar bons tradutores em diversos idiomas. “Entrei na área anunciando que traduzia para 32 idiomas, mas como encontrar tantos tradutores? Eu não tinha uma boa equipe e os trabalhos voltavam com erros”, conta. A experiência prévia na área não foi suficiente para garantir contratos. “Eu não sabia desenvolver projetos. Também tive que ser muito persistente para prospectar clientes. Eu ligava, marcava reuniões, mas recebia muitos ‘nãos’.”

Para garantir a qualidade dos trabalhos de tradução, Sueli explica que passou a cadastrar os tradutores bem avaliados. “Priorizei um bom tratamento e desenvolvi um relacionamento mais próximo com eles. Eu não podia pagar muito, mas oferecia uma demanda constante de trabalho e nunca atrasei os pagamentos”, lembra. Ela avalia que a estratégia de oferecer boas traduções em diversos idiomas, respeitando prazos de entrega e de pagamento, garantiu o crescimento da empresa de tradução.

Opção de renda

Assim como Sueli, cada vez mais brasileiros estão trilhando o caminho do empreendedorismo. Só em 2017, o Brasil registrou a abertura de 2.202.622 milhões de empreendimentos, um aumento de 11,4% em relação a 2016, de acordo com a Serasa Experian. Esse é o maior número já registrado desde que o indicador começou a ser medido, em 2010.

Entretanto 78,7% das novas empresas são de microempreendedores individuais (MEI), ou seja, uma pessoa que trabalha por conta própria e se formalizou. Segundo a Serasa Experian, a pesquisa indica o aumento do “empreendedorismo por necessidade”, situação em que a falta de empregos formais leva pessoas desempregadas a abrir um negócio para gerar renda.

Os últimos dados sobre desemprego confirmam a situação complicada da economia. A taxa de desemprego ficou em 12,6% no trimestre encerrado em fevereiro deste ano, uma alta de 0,6 ponto percentual em relação ao trimestre encerrado em novembro de 2017. Hoje, o País tem 13,1 milhões de desempregados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), divulgada no fim de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desafios

O cenário atual impõe atenção redobrada para quem quer abrir uma empresa, como alerta Alexandre Miserani, coordenador e professor de Administração e cursos tecnológicos da Faculdade Arnaldo, de Belo Horizonte (MG). “O problema de abrir uma empresa por necessidade é a falta de preparo. No empreendedorismo, deve-se entender sobre o negócio, observar a concorrência, a localização, entender o cliente, saber se o produto é aceito, buscar inovação. A pessoa precisa ser muito proativa, pois empreender exige esforço diário e o dinheiro não vem rapidamente”, avalia.

Apesar das dificuldades, Miserani lembra que é possível superar os obstáculos com perseverança e planejamento. “A pessoa precisa se dispor a buscar informações, colocar as ideias no papel, fazer contas. É possível buscar ajuda na internet, em livros e palestras. O empreendedor precisa avaliar o mercado, conhecer as novidades, saber como estão os concorrentes”, ensina. Para ele, investir no bom relacionamento com o cliente é um diferencial. “As relações estão muito frias e as pessoas querem ser lembradas. O cliente gosta de atenção e até paga mais caro quando alguém se importa com ele”, esclarece.

A consultora de carreiras Juliany Medeiros explica que desenvolver um olhar empreendedor é importante para quem deseja abrir um negócio. Para isso, ela diz que o primeiro passo é avaliar as próprias motivações e habilidades. “A pessoa deve observar o que a motiva a agir, o que a inspira. Também é importante saber aonde quer chegar, qual é seu objetivo”, afirma ela, que é CEO da HunterBe Soluções Empresariais 360º.

Juliany também destaca a importância de fortalecer a rede de contatos. “É importante buscar um mentor, exemplos de pessoas bem-sucedidas e observar o caminho delas. Outro ponto é ficar atento ao modo como alimentamos nossa mente, o que lemos, o círculo de pessoas que convivemos, os eventos que participamos. Eles ajudam seu desenvolvimento ou te colocam para baixo?”, questiona.

Oportunidade

Formado em Administração, Daniel Franco Castro, de 28 anos, trabalhava em uma empresa multinacional quando identificou uma oportunidade. “Minha mãe costumava levar para casa bolos inteiros. O produto era gostoso e o valor era baixo, aquilo me deixou curioso. Um dia, fui conhecer a loja”, recorda. Ele ficou interessado no negócio e buscou mais informações. “Pesquisei franquias e marquei uma reunião com os donos de uma empresa que estava começando. Depois, fiz as contas, vi que o investimento não era tão alto e que o retorno seria razoável até nos piores cenários.”

Na época, ele tinha uma carreira profissional promissora, mas decidiu arriscar e investir suas economias. Daniel convidou o irmão para ser seu sócio. “Um dos desafios foi ter coragem para sair do emprego. Fiz um planejamento para viver com o dinheiro que eu tinha poupado até os primeiros meses depois da abertura da loja de bolos”, lembra.

Ele e o irmão usaram a experiência dos antigos empregos e os ensinamentos da faculdade de administração para fazer uma pesquisa de mercado, encontrar o ponto mais adequado, traçar metas e planejar as operações do dia a dia da empresa. Entretanto Daniel admite que eles cometeram erros. “Tomamos algumas decisões com base na emoção, nos sentimentos. Um exemplo foi a contratação de funcionários sem observar o perfil necessário. Hoje, conhecemos as características das vagas e treinamos a equipe. Outro desafio foi encontrar fornecedores e aprender a gerir o estoque”, conta.

Daniel explica que eles investiram na qualidade do produto, no preço acessível e no bom atendimento para encantar a clientela. Ele mesmo chegou a fazer bolos. No início, os irmãos eram os responsáveis pelo atendimento no balcão. Assim, eles conversavam com os clientes para obter opiniões sobre o produto. A estratégia de divulgação da loja foi criativa. “Distribuímos bolos em salões de beleza, bancos e outros lugares que tinham potencial para gerar publicidade boca a boca. Também entregamos panfletos e fizemos degustações de bolos na loja”, revela. Em três meses, a empresa já atingiu as metas traçadas pelos irmãos. Em seis meses, eles abriram a segunda loja.

Hoje, após cinco anos, os sócios têm cinco lojas e 30 funcionários. Em breve, eles vão inaugurar a sexta unidade. “Temos uma estrutura maior, mas não perdemos a essência do negócio, a qualidade e o bom atendimento. Para empreender, é fundamental ter coragem, analisar a ideia e planejar para ver se o negócio cabe no bolso e como você vai executar os passos. Também é importante olhar novas oportunidades dentro do negócio. Nós descobrimos uma brecha e hoje temos linha de entrega de bolos para hotéis e bufês”, ensina ele, acrescentando que eles também têm uma franquia de sorvetes.

Fonte: universal.org


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