quarta-feira, 27 de julho de 2016

Medo de abandono é comum entre viciados em celular


Estudo indica que dependentes ficam muito angustiados quando não conseguem falar com alguém no telefone. Saiba por que isso acontece e como evitar o problema

Você consegue passar um dia inteiro sem celular? Para muitas pessoas, ficar longe do aparelho por alguns minutos é sinônimo de incômodo, ansiedade e até tristeza. Checar o smartphone com frequência e mantê-lo sempre visível e ao alcance são alguns sinais de apego, como indica um estudo feito por uma universidade da Hungria. Os pesquisadores também descobriram algo ainda mais preocupante: os viciados em celular têm mais medo de abandono. 

Segundo a pesquisa, os dependentes dos aparelhos sentem muita necessidade de estar em contato com outras pessoas. Ao mesmo tempo, eles têm mais receio de perder esse vínculo. Passar mais tempo navegando pelas redes sociais, conversar com colegas e fazer novas postagens ajudam a suprir o desejo constante de conexão. Entretanto, quando não conseguem falar com alguém ou não recebem a atenção que esperavam, essas pessoas ficam aflitas – uma consequência do medo de rejeição ou abandono. O estudo foi feito com jovens de 19 a 25 anos.

Aceitação


A psicóloga Sylvia van Enck explica que a sensação de abandono está relacionada à busca de aceitação. “Muitas pessoas procuram nas redes sociais formas de se sentir queridas e aceitas. Para elas, é importante que todo mundo curta e faça comentários favoráveis ao que postam. Quanto mais retorno elas têm, mais ficam dependentes. É como uma droga. Então, quando um amigo demora para responder ou quando suas postagens não são curtidas, isso de alguma forma aumenta a ansiedade e o sentimento de rejeição”, argumenta ela, que é colaboradora do Programa de Dependências Tecnológicas do Pro-Amiti, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas,  em São Paulo.

Sylvia destaca que a dependência de smartphones afasta o usuário do mundo real. “A pessoa vai se isolando de tal forma que ela se distancia dos amigos, que passam a ser amigos virtuais. Ela tem a falsa impressão de que tem um milhão de amigos e passa a temer o relacionamento presencial”, explica. Ela esclarece que pessoas ansiosas ou que apresentam quadros de fobia social, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade estão mais propensas a desenvolver dependência tecnológica, pois elas se conectam justamente para aliviar esses sintomas.

Consequências

A psicóloga diz que muitos dependentes têm reações agressivas quando são interrompidos ou impedidos de usar o aparelho. Isso faz com que até a família se afaste. “Os familiares evitam interromper com medo de uma reação ruim e isso provoca mais isolamento. Assim, a pessoa passa a entender que os outros não se importam com ela, mas não percebe que precisa abrir mão do que está fazendo para interagir”, alerta a profissional.

Além do isolamento, o uso exagerado de tecnologias gera problemas de saúde. “A pessoa deixa de se alimentar corretamente, dorme mal, o sono não é saudável. Há ainda o risco de acidentes. Muitas pessoas dirigem usando celulares e atravessam a rua sem olhar. A dependência também provoca conflitos com as pessoas que estão ao redor, pois elas ficam incomodadas com a falta de respeito”, diz Sylvia. Para evitar problemas, a dica da especialista é usar as tecnologias com moderação e analisar se elas estão prejudicando o cotidiano. “É uma questão de limites. A pessoa precisa se perguntar o que ela está deixando de viver quando está conectada”, aconselha.

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