terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Venezuelanos buscam ajuda no Brasil


Nos últimos meses, milhares de venezuelanos atravessaram a fronteira com o Brasil em busca de refúgio. Pela facilidade de acesso, Roraima é o estado que recebeu o maior número deles. São jovens, mulheres com crianças, adolescentes desacompanhados, idosos e até pessoas com deficiência que buscam suprir as necessidades básicas que lhes faltavam em suas cidades de origem. 

Apesar desse fluxo migratório ocorrer no estado desde 2015, recentemente ele se tornou mais intenso. Segundo a Polícia Federal, em 2017, entraram na capital Boa Vista 71 mil venezuelanos, enquanto saíram 29 mil, totalizando um saldo de 42 mil pessoas, o que representa 10% da população local.

Agora em 2018, a entrada deles continua aumentando. Somente entre 1 e 25 de janeiro, 8 mil imigrantes entraram pela fronteira terrestre do município vizinho de Pacaraima.

O principal motivo da fuga é a fome que enfrentam na Venezuela. Além disso, eles reclamam da escassez de remédios, da instabilidade política e da inflação exorbitante, que chegou a 700%.

Por aqui, eles enxergaram a esperança de conseguir emprego e comida. Por isso, as filas para pedido de refúgio na Polícia Federal crescem a cada dia. Em 2016, foram 2.312 solicitações, enquanto em 2017 foram 17.130. Dessas, nenhuma foi concedida pelo Comitê Nacional para Refugiados (Conare), órgão subordinado ao Ministério da Justiça.

A negação acontece porque o refúgio é concedido a imigrantes que fogem de perseguições políticas, étnicas e religiosas, que não é o caso dos venezuelanos que partem de seu país por motivação econômica.

Mas eles não desistem. Cerca de 450 pessoas, a maioria homens em idade produtiva, fazem fila para se regularizarem no Brasil e poderem trabalhar. Muitos deles também pedem a residência temporária, que passou a ser gratuita em agosto de 2017.

Reflexo

Em Boa Vista e região, é crescente o impacto dessa migração. Muitos venezuelanos tentam achar um lugar para dormir nos abrigos superlotados. Há ainda os que dividem aluguéis em casas com mais de 30 moradores e outros que vivem em barracos construídos com lonas, tecidos e restos de madeira. Mas a maioria se acomoda em praças. Em uma delas, chamada de Simón Bolivar – líder militar que lutou pela libertação da América Latina do domínio espanhol – 300 pessoas ficam aglomeradas.

Nos semáforos, os venezuelanos passam segurando placas em que pedem emprego. Outros ficam nas portas dos supermercados procurando comida.

Por causa do excesso de pessoas e da precariedade dos locais, são comuns conflitos, doenças e outros problemas, como tráfico de entorpecentes, consumo de drogas e álcool e até prostituição.

O impacto da imigração é sentido em vários setores. Conforme a Secretaria de Saúde de Roraima, em 2014, 760 venezuelanos foram atendidos na rede pública de saúde da cidade. Já em 2017, esse número saltou para 15.055.

Há dois anos, o estado já havia decretado situação de emergência, alegando que unidades de saúde de Boa Vista e de Pacaraima estavam sobrecarregadas. Em 2017, o alerta continuou, mas se estendeu também para outros setores, como o da educação, por exemplo. Isso porque só no ano passado o número de crianças venezuelanas matriculadas na rede municipal de ensino cresceu 1.064%, segundo a prefeitura da capital, o que fez sobrecarregar as escolas da cidade.

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