quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O maior vendedor de sonhos da história


A personalidade construída sobre o crepitar das ondas

Alguns meninos cresceram correndo pela areia. Seus avós tinham sido pescadores, seus pais foram pescadores e eles eram pescadores. A história deles estava cristalizada. Todos os dias enfrentavam a mesma rotina e os mesmos obstáculos. Queriam mudar de vida.


Mas faltava-lhes coragem. O medo do desconhecido os bloqueava. Na mente desses jovens não devia passar inquietações sobre os mistérios da vida. A falta de cultura e a labuta pela sobrevivência não os estimulavam a grandes voos intelectuais. Nada parecia mudar-lhes o destino, até que surgiu no caminho deles o maior vendedor de sonhos de todos os tempos. 


Havia um homem que morara por trinta anos num deserto. Seus discursos eram estranhos, seus gestos, bizarros. Estava perturbado com a ideia fixa de que era o precursor do homem mais importante que jamais pisaria na Terra. Seu nome era João Batista. 


Multidões se aproximavam para ouvir seus discursos. Ele teve a coragem de dizer que o homem que aguardava era tão grande que ele mesmo não era digno de desatar-lhe as correias das sandálias. Esses discursos desenhavam na mente dos ouvintes os mais diferentes quadros. Alguns achavam que o homem anunciado apareceria como um rei. Outros imaginavam que ele apareceria como um general, acompanhado por grande escolta. Todos o aguardavam ansiosamente e esperavam um discurso arrebatador. 


De repente, surgiu um homem simples. Ninguém notou. Suas vestes eram surradas, sem nenhum requinte. Sua pele era desidratada, seca e sulcada, resultado do trabalho árduo e da longa exposição ao sol. Não tinha escolta, não tinha carruagem, não tinha serviçais. Procurava passagem no meio da multidão. Tocava as pessoas com suavidade, pedia licença, e pouco a pouco conseguia seu espaço. 


João contemplou o homem dos seus sonhos. Foi arrebatado por ele. A imagem da fantasia das pessoas, no entanto, não coincidia com a imagem real. João via o que ninguém enxergava e, para espanto da multidão, exaltou aquele homem simples. 


As pessoas ficaram confusas e decepcionadas. Elas esperavam pelo menos um belo discurso. Afinal de contas, a fome e os transtornos sociais eram enormes. Elas precisavam de alento. Porém, o homem dos sonhos de João chegou mudo e saiu calado. Desiludidas, as pessoas se dispersaram. Mergulharam novamente na sua ente diante rotina. Mais tarde, dois irmãos ergueram os olhos e viram uma pessoa diferente caminhando pela praia. Incomodados, eles se entreolharam. Então, o estranho ergueu a voz e lhes propôs: "Vinde após mim que eu vos farei pescadores de homens." 


O nome dos irmãos que ouviram esse convite era Pedro e André. A rotina do mar havia afogado os seus sonhos. Mas apareceu-lhes um homem que lhes incendiou o espírito. Com uma sentença ele os estimulou a trabalhar para a humanidade, a enfrentar o oceano imprevisível da sociedade. 


Jesus Cristo não havia feito nenhum ato sobrenatural, no entanto sua voz tinha o maior de todos os magnetismos, porque vendia sonhos. Vender sonhos é uma expressão poética que fala de algo invendável. Ele distribuía um bem que o dinheiro jamais pôde comprar. 


Quem se arriscaria a segui-lo? 


Pense um pouco. Por que seguir esse homem? QIe implicações sociais e emocionais essa escolha teria? O vendedor de sonhos era um estranho para os dois irmãos. Não tinha nada de palpável para oferecer a esses jovens. Você aceitaria tal oferta? Largaria tudo para entregar sua vida em prol da humanidade? Jesus não prometeu estradas sem acidentes. Mas prometeu força na terra do medo, alegria nas lágrimas, afeto no desespero. 


Parecia loucura segui-Io. Mas como explicar o inexplicável? Pedro e André foram atraídos pelo vendedor de sonhos, mas não entendiam as consequências de seus atos. Pouco depois, o Mestre da vida encontrou dois outros irmãos, mais novos e inexperientes. Eram Tiago e João. Eles estavam à beira da praia consertando as redes. O Mestre se aproximou deles, fitou-os e fez o mesmo e intrigante convite.

Fonte: Augusto Cury, 2013.

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