Manchas esbranquiçadas, vermelhas ou marrons e diminuição na sensibilidade da pele são algumas características da hanseníase, doença que afeta milhares de brasileiros todos os anos. Nosso país ocupa a segunda posição no mundo em número de casos da doença, perdendo apenas para a Índia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2017, foram registrados 26.875 casos no Brasil. Um ano antes, foram 25.218 registros, de acordo com o Ministério da Saúde.
“A hanseníase ainda é uma doença desconhecida e subvalorizada. Ela se prolifera em comunidades e espaços com grande aglomeração de pessoas, pois a transmissão acontece por contato direto e prolongado com pessoas doentes e sem tratamento”, explica Caio Lamunier, médico dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e do Hospital das Clínicas de São Paulo.
A população mais pobre é a mais afetada. “Os casos de hanseníase estão em lugares que têm menos cobertura de saúde, menos qualidade de vida e mais pobreza. A maioria da população tem proteção natural contra a doença e o contágio depende da longa exposição à bactéria”, diz Artur Custódio, coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).
Falta informação
O grande desafio a ser superado para o combate à hanseníase é a falta de informação. “A hanseníase recebe menos investimento em divulgação do que outras doenças e ainda existe um preconceito institucional. A doença é invisibilizada”, opina Custódio.
Lamunier explica que muitos pacientes só recebem o diagnóstico depois de passar por vários médicos. “No início, as lesões da hanseníase são inespecíficas, podem aparecer manchas esbranquiçadas ou avermelhadas e o diagnóstico pode se confundir com o de outras doenças de pele. Por isso, os médicos de postos precisam estar preparados. Os pacientes também devem questionar sobre manchas no corpo”, afirma. As manchas causadas pela hanseníase não provocam coceira.
Incapacidades
Com a evolução da doença, as manchas na pele perdem sensibilidade térmica e à dor. “Quando a doença chega ao nervo, ela altera a sensibilidade e leva à fraqueza muscular e o paciente tem dificuldade para fazer atividades simples. Ela também pode causar alterações na face, deformidades e até perda de dedos por causa da perda de sensibilidade”, enumera Lamunier.
A doença tem cura em qualquer estágio e o tratamento é gratuito e feito com antibióticos distribuídos em postos de saúde. Quanto antes as medicações forem tomadas, menor é o risco dela deixar sequelas.
Mito
Não é necessário que o doente fique isolado. Ao começar o tratamento contra a hanseníase, a pessoa deixa de transmitir a doença. Na década de 1940, entretanto, as pessoas diagnosticadas com hanseníase foram isoladas pelo governo federal. “Elas eram capturadas e obrigadas a ir para colônias. Se tivessem filhos nesses lugares, eles eram levados a orfanatos e muitos sofreram abusos e maus-tratos. Oficialmente, isso durou até 1979, mas na prática foi até 1986”, diz Custódio. Ele lembra que isso gerou muito sofrimento. “O Brasil reconheceu essa política como crime de Estado e as pessoas levadas para as colônias foram indenizadas.” Por isso, o combate à discriminação é muito importante. “Conseguimos acabar com a última lei discriminatória em 1990. Infelizmente, o preconceito ainda existe e não há motivo para isso”, diz Custódio.
Fonte: universal.org
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