A cada dia surgem novas informações que preocupam a
população. Apesar do medo, é preciso se mobilizar em prol do que existe de mais
eficiente: o combate ao Aedes aegypti
Quando o zika foi encontrado pela primeira vez no Brasil, em
abril de 2015, os cientistas não pensavam que se tratava de um vírus tão
resistente e perigoso, capaz de se alastrar rapidamente e se tornar, em pouco tempo,
uma epidemia nacional.
No Brasil já são quase 1,5 milhão de infectados, de acordo
com dados do Ministério da Saúde. Com o alto número de pessoas que transitam
entre os países, não demorou muito para que o vírus se espalhasse para outros
continentes. Atualmente, ele está em 33 países, dos quais 26 são das Américas.
A África, a Ásia e a Europa também já apresentam casos isolados da doença.
O zika vírus tem diagnóstico difícil. A doença se confunde
com a dengue, só que se manifesta de forma mais branda – apresenta febre baixa,
dor nas articulações, vermelhidão nos olhos, manchas e coceira pelo corpo.
Contudo, o que preocupa é que apenas 20% dos casos apresentam esses sintomas, o
que faz com que muitas pessoas não consigam reconhecer que um dia tiveram a
doença.
Enquanto os pesquisadores correm contra o tempo para achar
os motivos da dispersão do vírus, novas notícias também aparecem, preocupando
ainda mais a população. Uma delas diz respeito às formas de contágio da doença.
Até agora foi comprovado um caso de transmissão de zika por
via sexual. O relato foi publicado no jornal The New York Times, quando um
paciente do Texas, nos Estados Unidos, foi infectado depois de manter relações
sexuais com alguém que esteve na Venezuela.
Os pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também
encontraram o vírus ativo na urina e na saliva de uma pessoa infectada, mas
ainda não é possível dizer se a contaminação pode ocorrer por meio desses
fluidos.
O medo da microcefalia
O pânico maior é das grávidas, já que a infecção pode causar
microcefalia – uma doença que causa má-formação no cérebro do bebê.
Até o dia 12 de fevereiro, foram notificados 5.079 casos
suspeitos de microcefalia no Brasil. Entre eles, 462 foram confirmados. No
entanto, somente 41 tinham relação com o zika. Outros 765 foram descartados e
3.811 continuam sob investigação.
Em novembro passado, o Ministério da Saúde já havia
relacionado o vírus aos casos de bebês com microcefalia no Nordeste do Brasil.
Agora, novos estudos em outros países ajudam a fortalecer essa associação.
No último dia 11 de fevereiro, o periódico científico The
New England Journal of Medicine relatou o caso de uma jovem da Lituânia, na
Europa, que foi infectada por zika em Natal, no Rio Grande do Norte, no
primeiro trimestre de gestação. Depois que ela teve um aborto, foi verificado
que as células do feto continham o vírus.
Aqui no Brasil, algumas mulheres infectadas estão tomando
medidas radicais. Mesmo sem saberem se o feto tem ou não microcefalia, elas
procuram clínicas clandestinas para abortar, colocando em risco a própria vida.
Outras estão sendo abandonadas por seus companheiros. Em Pernambuco, Estado com
1.447 casos suspeitos de microcefalia, muitas mães têm sido rejeitadas pelos
parceiros depois de descobrirem que o filho do casal poderá apresentar a
má-formação.
A neuropediatra Ariene Dalas Peres destaca que diante da
dúvida quanto ao diagnóstico é preciso ter calma. “A microcefalia existe há
muito tempo, mas, por ser rara, ainda não se sabe muito a seu respeito. Há
vários graus da microcefalia e cada caso é um caso. O diagnóstico correto da
má-formação é tardio. Então, não se pode tomar decisões diante de incerteza”,
informa.
A possível relação do vírus com outras doenças neurológicas
também preocupa as autoridades de saúde. Isso porque algumas pessoas infectadas
apresentaram a Síndrome de Guillain Barré – uma doença autoimune que atinge o
sistema nervoso e paralisa partes do corpo. Na Bahia, por exemplo, uma pessoa
desenvolveu os sintomas da doença logo após ter sido infectada pelo vírus.
Assustados com a disseminação do zika, alguns atletas
olímpicos ainda não confirmaram presença na Olimpíada deste ano, que acontecerá
em agosto, no Rio de Janeiro.
Em entrevista à revista Sports Illustrated, a goleira da
seleção norte-americana de futebol, Hope Solo, afirmou que teme a epidemia e,
que se fosse hoje, ela não viajaria ao Brasil, porque quer ter uma gestação
saudável no futuro.
Foco principal
Em meio às dúvidas que surgem a cada dia, o mosquito Aedes
aegypti, que transmite o zika, a dengue e a chikungunya, é o principal alvo de
combate.
O infectologista Eduardo Sales Pereira ressalta que a
preocupação com as formas de contágio da doença não podem fazer com que todos
desviem a atenção do principal objetivo: a eliminação dos criadouros do
mosquito. “A única certeza que temos por enquanto é que a transmissão do vírus
é feita pela picada da fêmea do Aedes. Em vez de ficarmos todos desesperados,
repercutindo informações ainda desencontradas, precisamos nos mobilizar para
eliminar a água parada”, alerta.
Ele alega que é preciso usar a preocupação como forma de
incentivo ao combate. “O foco está dentro das casas, mas o que temos visto não
é uma adesão em massa da população. Os cidadãos acham que não é dever deles
participar do controle. É como o fumante que sabe que o cigarro causa câncer,
mas não o larga”, compara.
Para Adriano Mondini, professor da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), doenças transmitidas
por vetores são negligenciadas. “Mesmo com a circulação no ano passado de
chikungunya e antes da explosão dos casos de microcefalia, o foco da imprensa
era o uso de repelentes e vacinas contra a dengue, o que considero um completo
desserviço para o controle do Aedes. O vetor está aí. A bola da vez é o zika.
Se não houver mudança de atitude e estratégias, será que teremos que lidar com
outros vírus nos próximos anos?”, indaga.
E não adianta sair por aí tentando matar o mosquito que está
voando, pois é pouco provável que você consiga vê-lo. Apesar de o Aedes ser
maior do que um pernilongo, por exemplo, ele é muito mais ágil. Você não
conseguiria, por exemplo, matá-lo com uma raquete elétrica.
O infectologista Eduardo Sales Pereira apresenta outras
diferenças: “Ele não faz zumbido, voa baixo e prefere picar durante o dia e não
à noite, como o pernilongo. Quanto à picada, a diferença é gritante. Enquanto o
pernilongo deixa a pele vermelha, com calombo e coceira, o Aedes, na maioria
das vezes, não deixa nenhum sinal”, diz. Por isso, eliminar os criadouros onde
a fêmea deposita os ovos é a forma mais eficiente de combatê-lo.
Alerta mundial
O número de bebês com microcefalia e a associação com outros
problemas neurológicos fizeram com que a Organização Mundial de Saúde (OMS)
decretasse, no início de fevereiro, estado de “emergência internacional de
saúde pública” e convocasse todos os países a desenvolverem estratégias para
combater o zika.
Em razão disso, a presidente Dilma Rousseff convocou a
população para que todos se unissem no combate. Em cadeia nacional, ela disse:
“Enquanto não desenvolvemos uma vacina contra o zika vírus, precisamos combater
o mosquito. A maneira mais eficaz é não deixando que ele nasça. Vamos eliminar
nos quartéis, nas unidades de saúde, em todos os prédios do governo. Todos nós
precisamos entrar nessa verdadeira batalha.”
No início de fevereiro, uma megaoperação envolvendo 220 mil
militares das Forças Armadas começou a ser realizada no País. Eles entrarão nas
residências em busca de possíveis criadouros. Além disso, cerca de 40 mil
profissionais que fazem leitura dos medidores de energia mapearão possíveis
focos do mosquito, usando coordenadas geográficas com o equipamento que
utilizam para verificar relógios de luz.
Enquanto o número de infectados aumenta pelas Américas,
cientistas seguem os estudos para que a epidemia possa ser freada. Na
Universidade de Campinas (Unicamp), os pesquisadores começaram a desenvolver um
teste rápido, que vai detectar o zika no sangue em apenas cinco horas.
Uma vacina também está sendo pesquisada. No dia 11 de
fevereiro, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou um acordo para que uma
pesquisa pudesse ser realizada pelo governo brasileiro com a Universidade do
Texas Medical Branch, dos Estados Unidos. Contudo, a disponibilização das doses
deverá ocorrer daqui a alguns anos.
Apesar dos avanços nos estudos, é preciso que cada cidadão
faça sua parte. O que precisa ficar claro é que o zika vírus não é uma doença
exclusiva de mulheres grávidas e que é papel de todas as pessoas combater o
Aedes aegypti.