O segundo ano de Carnaval atípico no Brasil devido à pandemia de Covid-19 provoca reflexos que vão além do calendário da folia e também atingem a atividade econômica.
O setor de turismo deve ter uma melhora em relação a 2021, mas ainda insuficiente para retomar o nível de negócios da data no pré-crise, projeta a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
Enquanto isso, o cancelamento de blocos de rua frustra planos e espalha preocupação entre comerciantes, vendedores ambulantes e trabalhadores do setor de entretenimento.
Em 2022, o turismo deve movimentar R$ 6,45 bilhões em atividades decorrentes do feriado no Brasil, prevê a CNC. A estimativa é 21,5% superior ao resultado do ano passado (R$ 5,31 bilhões), quando o setor amargou um tombo em meio a restrições maiores à circulação de pessoas.
Apesar da melhora em relação ao ano passado, o número projetado ainda está 33,7% abaixo do Carnaval de 2020 (R$ 9,74 bilhões), antes da explosão da pandemia. Os dados, ajustados pela inflação, consideram os negócios de atividades como hospedagem, alimentação fora de casa e transporte aéreo.
O economista Fabio Bentes, da CNC, afirma que o turismo depende mais do feriado em si do que dos blocos de Carnaval. Mas ele avalia que a derrubada desses eventos, associada ao recente avanço da Covid-19 e à piora das condições de consumo no Brasil, dificulta a volta ao nível pré-crise.
"A movimentação do turismo deve flutuar entre o Carnaval de 2020, antes da pandemia, e o de 2021, que foi uma tragédia para o setor. Assim, o processo de recuperação é adiado. É empurrado para frente", afirma Bentes.
No Rio de Janeiro, a prefeitura anunciou no começo de janeiro o cancelamento dos blocos de rua devido ao novo avanço dos casos de coronavírus. Já o desfile das escolas de samba da Sapucaí foi reagendado para abril.
Se a programação tradicional fosse mantida, a rede hoteleira carioca poderia alcançar em torno de 95% da ocupação no final de fevereiro, projeta Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO (Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro).
Sem os blocos, a estimativa recua para a faixa de 85%. O que deve garantir o percentual ainda elevado, diz o dirigente, é a aposta nas viagens de famílias que pretendem aproveitar outras atrações turísticas do Rio durante a folga.
"No caso do Carnaval de avenida, o impacto é diferente, porque tem um público muito focado no turista internacional. Até abril, ele vai ter outros eventos, e talvez a gente não consiga recuperar todas as reservas que seriam feitas", pondera Lopes.
Em 2020, o Carnaval movimentou mais de R$ 4 bilhões na capital fluminense, com a presença de 2 milhões de turistas, segundo dados da Riotur.
Thiago Vicente de Moraes, 35, lamenta o novo cancelamento das festas de rua na cidade. Ele vende bebidas ao ar livre. "O Carnaval é sempre algo a mais para a gente. Ajudaria bastante, ainda mais em uma pandemia danada como essa", conta.
Segundo Moraes, antes da Covid-19, as vendas nos blocos de Carnaval rendiam o equivalente a até dois meses de trabalho. "O impacto do cancelamento é muito grande. O Carnaval de rua é mais do que um 13º salário para a gente. É um dinheiro que permite fazer compras e pagar contas atrasadas", afirma a coordenadora do Muca (Movimento Unido dos Camelôs), Maria de Lourdes do Carmo, 47.
No início de fevereiro, a prefeitura carioca anunciou um auxílio de R$ 500 para ambulantes que trabalham nos blocos de rua. A administração municipal fala em beneficiar mais de 9.000 pessoas, identificadas a partir de um cadastro do Carnaval de 2020.
O Muca defende a ampliação no número de ambulantes com direito ao auxílio, já que nem todos tinham cadastro em 2020, segundo o movimento.
A exemplo do Rio, São Paulo também anunciou em janeiro o cancelamento do Carnaval de rua. Os desfiles das escolas de samba estão previstos para abril.
Fonte: www.otempo.com.br
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