sexta-feira, 29 de maio de 2020

Valorizando o que é nosso: Francisca das Chagas Vasconcelos

A imagem pode conter: 1 pessoa, sentado e óculos

Por minhas mãos veio a vida, mas me negaram a mão. A partir dessa frase eu tive a oportunidade de resumir a vida, a história, o sofrimento, a indiferença, o abandono, a importância, e os desafios que infelizmente insistem em ser parte de seu cotidiano.

Sua biografia é uma das minhas belas páginas da historia recente de nosso município, apesar de eu achar que essa pessoa por tudo que representou e representa em vários aspectos para nós nossas autoridades ainda não aprenderam a dar dignidade a quem doou os melhores ano de sua vida para servir a população que necessitava de seus serviços.

Serviços esses urgentes e que foram sempre realizados na precariedade de uma cidade insalubre e muito carente de todos os recursos básicos. Mas o destino reservou a essa pessoa dezesseis anos de luta de dedicação, de esquecimento de si própria de abnegação, de confiança mutua entre ela e as pacientes.

Já apresentei palestras com sua biografia e já reclamei pelo o mínimo de atenção a sua pessoa atendendo um pedido dela, coo um ultimo grito de socorro, já escrevi artigo na universidade com sua biografia o qual foi de suma importância e despertou o interesse para sua historia ser contada na UFRN, alunos do IFRN querem representar sua vida em peças de teatro.

Touros uma cidade com alto índice de mortalidade pós-parto no inicio dos anos sessenta. O então padre Ruy Miranda a convoca a sair de ceara mirim e se aventurar em terra estranha. Duvidas, incertezas deixar o certo pelo desconhecido, mas atendendo a esse chamado e pensando na missão deixa a estabilidade de seu emprego e chega julho de 1963.

A primeira maternidade de taipa, o som do mar a impede de dormir alguns dias, “comer carne só de oito em oito dias”, as famílias mais “abastadas” apadriavam as mães nos primeiros dias. Traziam alimentos e roupas para o recém-nascido depois de três dias tinham de sair pois chegavam outras.

Centenas de vezes a própria confeccionou o enxoval do bebê, cozinhava, lavava as roupas das mães e seus filhos e dormia na maternidade ainda sem energia.

Quantas vezes foi convocada para suturar presos, feridos de falca e garrafadas, tirar anzol da mão de pescador, quantas vezes foi de caçamba ao interior fazer parto, quantas vezes cruzou dunas atender a quem precisava, quantas mães chegavam carregadas em uma rede vindo dos distritos e a pé. Sem nunca ter tido um óbito em todo tempo que realizou este trabalho. Quantos dizem ainda ela quem me segurou quando nasci, quantos pescadores ainda lhe pedem a benção.

Hoje esquecida de muita gente, isolada da sociedade que outrora a prestigiava com uma importância merecida, hoje as mãos deformadas de trabalhar, sem direito a uma aposentadoria digna, aposentada por invalidez sem direito a decimo terceiro. A casa ainda é a mesmas paredes rachando, uma linha quebrou e caiu em sua cama quase que causa um acidente.

A encontrei contando moedas na mesa para comprar seus remédios, um olhar triste que vai longe e nos ensina muito. Gestos simples e uma dor contida em um coração que não quer nada apenas que a reconhecessem como alguém que dedicou a vida a ajudar a nascer uma geração de tourenses.
Nesses tempo que o amor de alguns tourenses aflora ou seja de quatro em quatro anos o amor aparece com a força de um furacão e se espalha em todos os meios de comunicação era bom que esse amor tão propalado chegasse em forma de ajuda o, de um bom dia, boa tarde e refletissem um pouco sobre a historia dessa guerreira só basta uma simples visita, uma atenção como ela diz ” passo a tarde nessa cadeira ninguém ver nem que eu existo”.

Somos filhos da geração que só valoriza depois que morre, e como ela diz a mim depois que eu morrer não quer meu nome em posto de saúde, nem em nome de rua e eu concordo plenamente.

Queria que me vissem agora. Eu tenho certeza que Deus sabe todas as coisas que você fez, ele anotou tudo assim como você tinha anotado o nome de cada tourense que nasceu por suas mãos. Ainda creio que apesar de tarde seu merecido reconhecimento vai chegar e a dívida que Touros tem como você será parcialmente paga.

Por tudo que você fez pelo nosso município Touros venho lhe dizer muito obrigado Francisca das Chagas Vasconcelos, a eterna Chaguinha parteira.

Fonte: Flávio Santos

Nenhum comentário: