domingo, 2 de junho de 2019

Você sabe o que as crianças estão vendo na internet?

Por Rê Campbell / Fotos: Arquivo Pessoal e iStock

Para muitos pais, o uso da internet em casa não oferece riscos. Afinal, as crianças supostamente estão protegidas dentro do próprio lar. Entretanto um caso recente nos Estados Unidos mostra que o mundo digital pode esconder alguns perigos.

No início de maio, o youtuber norte-americano Austin Jones, de 26 anos, foi condenado a dez anos de prisão após ter pedido que menores de idade lhe enviassem vídeos de conteúdo sexual para provar que eram fãs dele. Jones fez sucesso no YouTube cantando músicas a capela e chegou a fazer turnê pelos Estados Unidos, segundo reportagem do canal CNN.

Em 2017, ele havia sido preso por duas acusações de produção de pornografia infantil. Na ocasião, ele admitiu ter atraído seis meninas a fazer vídeos de si mesmas. Em fevereiro deste ano, ele se declarou culpado e foi condenado. Para conseguir o material, Jones disse a algumas jovens que a atitude seria uma oportunidade de atuar como modelo e que ele poderia ajudá-las a conquistar seguidores no Instagram, segundo informações do Departamento de Justiça norte-americano. O youtuber admitiu que usou o Facebook para persuadir jovens de cerca de 14 anos a enviar vídeos e fotos íntimas dezenas de vezes.

Cuidados

O caso do youtuber indica que pais e responsáveis precisam estar preparados para entender o funcionamento da internet e orientar os filhos. A psicóloga clínica Aline Saramago diz que é importante ter conversas sinceras com as crianças e respeitar o entendimento delas a cada faixa etária. “Os pais devem informar os filhos sobre os riscos e explicar casos que já ocorreram e viraram notícia, como o do youtuber. É preciso ter paciência para dialogar. No caso da pornografia infantil, por exemplo, é importante falar para a criança que ninguém pode pedir fotos ou vídeos íntimos dela como prova de amizade, amor ou em troca de algo”, explica.

Segundo ela, os pais devem acompanhar os conteúdos que os filhos acessam. “Os responsáveis precisam chegar a acordos sobre os limites e explicar aos filhos os motivos de suas decisões. Filhos adolescentes às vezes querem mais privacidade, mas os pais precisam estar próximos e orientá-los.”

A psicopedagoga Cléa Prado, diretora-executiva do Colégio Arnaldo Anchieta, de Belo Horizonte (MG), alerta que os pais devem estar atentos ao excesso de uso de tecnologia e internet entre os pequenos. “Muitos pais e mães acabam sendo permissivos demais. A internet dá acesso ao mundo e isso significa que há riscos. Todo excesso não é bom e sabemos que esses aparelhos podem causar dependência. Pai e mãe precisam estar presentes na vida dos filhos e acompanhar a rotina deles.”

Ficção ou realidade?

Cléa acrescenta que até o início da adolescência muitos jovens podem confundir o mundo virtual com a realidade física. Ou seja, alguns jovens que passam muito tempo conectados à internet podem ter dificuldade para diferenciar a fantasia da realidade da vida social, o que levaria a outros riscos.

“Por exemplo, se a criança joga por muitas horas, ela pode ter dificuldade para discernir a realidade virtual da real. Ela pode confundir a relação familiar e pessoal com o ambiente digital e achar que o que está na internet é tão verdadeiro quanto a vida social”, esclarece.

Equilíbrio

A psicopedagoga informa que a relação entre pais e filhos pode ser fortalecida por meio de diferentes atividades em família. “É importante estimular programas juntos, como preparar um alimento e ouvir música.”

Além disso, ela lembra que a escola é o primeiro ambiente social em que as crianças vão se deparar com desafios. “Os pais não criam seus filhos para viverem isolados. Na escola, é importante lembrar que nem sempre os desejos individuais de pai e mãe serão atendidos, mas as necessidades do coletivo. Nesse espaço, a criança vai experimentar viver em sociedade e também pode enfrentar frustrações”, finaliza a profissional.




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