Quem ama seus filhos tende a protegê-los. Isso é fato. Trata-se de
uma atitude que faz parte da relação entre os mais velhos e os mais
novos. Entretanto, há um limite para esse cuidado. Quando este zelo
ultrapassa a fronteira do bom senso, podem surgir efeitos colaterais que
não são bons nem para os pais nem para os filhos. Os pais que agem
dessa forma exagerada são chamados de “pais-helicóptero”. O nome faz
menção ao monitoramento quase constante que eles exercem sobre os
filhos, como se estivessem sempre sobrevoando a vida dos mais jovens
desde a infância, na intenção de socorrê-los diante de qualquer
imprevisto, fazendo de tudo para afastá-los dos perigos e sofrimentos.
Raiz do problema
Para a psicóloga Karin Cristina da Silva, de 48 anos, que atua na
área clínica, a postura de superproteger os filhos é, infelizmente, uma
característica da sociedade atual: “Pais super-protetores, geralmente,
são motivados pela ansiedade que provoca pensamentos disfuncionais e os
faz imaginar que algo ruim poderá acontecer a seus filhos se ficarem
sozinhos, se pisarem no chão, se forem à escola apenas com os amigos,
etc. Alguns chegam a acompanhar seus filhos mesmo quando já são
adolescentes. Outros não conseguem ficar em paz enquanto os filhos, já
adultos, não chegam em casa”, explica.
Para a psicóloga, uma das raízes do problema está nos traumas que os
pais ainda carregam. “Eles podem ter sido negligenciados em suas
infâncias e, por não querer que seus filhos passem pelo mesmo trauma,
acabam não reconhecendo esse comportamento controlador. Eles costumam
justificar suas atitudes alegando que querem sempre o melhor para os
filhos, mas, como consequência, superprotegem e os impedem de adquirir
autonomia e fazer suas escolhas”, pontua.
Faltando um pedaço
Como
os “pais-helicóptero” fazem coisas demais pelos filhos, essas crianças
crescem sem uma ética de trabalho saudável e habilidades básicas, sem as
quais o jovem não é capaz de realizar muitas das tarefas exigidas pelas
suas atividades profissionais. “É como se lhes faltasse um pedaço. Os
pais privam os filhos de qualquer consequência significativa por suas
ações. Com isso, eles perdem a oportunidade de aprender lições de vida
valiosas com os erros, o que contribuiria para a sua inteligência
emocional. Quando os pais protegem demais seus filhos de algum conflito
que possam ter com os colegas de escola, a tendência é de que no futuro,
quando crescerem e se tornarem adultos, não saberão resolver as
dificuldades com um colega de trabalho ou um chefe”, observa a
especialista.
Crescimento pessoal
Se pararmos para pensar um pouco, os “pais-helicóptero”, com a
atitude de sempre girar em torno dos filhos, praticamente os embrulham
em um plástico-bolha para que nada de mau lhes aconteça e estão, na
verdade, prejudicando as chances de sucesso deles. “Dessa relação,
surgirão pessoas que começam e não terminam estudos e adolescentes que
buscam nas drogas mais prazeres, por exemplo, entre outras
consequências. Ou ainda maridos e esposas que não aguentam as
dificuldades de um casamento e também adultos inseguros por causa da
baixa autoconfiança, passivos, esperando que as pessoas venham cuidar de
suas necessidades e que, quando isso não acontece, ficam irritados e
frustrados”, explica a especialista.
Ela afirma que a atenção dada à criança é necessária, mas é preciso
possibilitar a ela que erre e corrija seus erros, tornando-a autônoma e
capaz de fazer suas escolhas. “O erro possibilita o amadurecimento e a
reflexão para o crescimento pessoal. Os pais precisam demonstrar que
confiam em seus filhos. Orientar, sim, manipular não. Se houver muita
dificuldade em resolver esse problema, uma saída é procurar ajuda de um
profissional que vai orientá-los a como vencer esses desafios
interiores. Precisamos deixar os filhos frequentarem a academia do
crescimento pessoal para que possam desenvolver segurança em si mesmos,
determinação, resistência, frustração e foco. Quando adquirimos isso no
decorrer da vida, tudo torna-se mais fácil e menos dolorido, porque o
processo acompanha o amadurecimento das pessoas”, conclui.
Consequências da superproteção
Para a psicóloga Karin Cristina da Silva, as crianças que foram
superprotegidas tornam-se indecisas, têm baixa autoestima, incapacidade
para enfrentar situações e dificuldade em tomar decisões sozinhas. À
medida que crescem e entendem o mundo ao seu redor, podem culpar os
pais pela frustração que sentem ao perceber que são incapazes de fazer
qualquer coisa sozinhas. Podem ter pensamentos negativos sobre a vida e
quanto a si mesmas e quando chegam à adolescência ou à fase adulta podem
ter depressão. Elas acabam se apoiando nos outros para que tomem
decisões por elas, porque estão acostumadas com isso. Muitas entram em
relacionamentos tóxicos e criam dependência emocional.
Tipos de pais supercontroladores
Segundo a psicóloga, a
primeira categoria de “pais-helicóptero” é a chamada “helicópteros de
combate”. Ela se caracteriza em voar para lutar pelos seus filhos em
qualquer situação. A segunda modalidade corresponde aos pais conhecidos
como “helicópteros de tráfego”: aqueles que guiam suas crianças, marcam o
caminho que consideram mais adequado e ajudam os filhos a tomarem
decisões apropriadas ao longo de suas vidas. O terceiro tipo de pais
superprotetores formam o grupo de “helicópteros de resgate”. A função
deles é tirar seus filhos de situações de crise e levá-los para um lugar
seguro ou proporcionar a eles abastecimento para que voltem a se
levantar e a se colocar em pé.
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