quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Nem tudo o que parece é

Nas redes sociais, dificilmente vemos fotos e vídeos de casais brigando, de pessoas chorando ou contando seus problemas. Na verdade, o mais comum é encontrar postagens que demonstram felicidade, bem-estar, sucesso e riqueza. Tudo em prol de conquistar notoriedade no mundo digital.
Muitas dessas postagens de felicidade escondem uma realidade bem diferente. Levando isso em conta, podemos concluir que nem tudo o que parece realmente é, não é mesmo? Para a psicóloga Amanda Bastos, as pessoas postam algo diferente do que vivem para se sentirem queridas e admiradas. “Existe tanto a busca por aceitação quanto pela construção de identidade. E, assim, antes de aproveitar a vida real, pensa-se na vida virtual. Com isso, às vezes, vale tudo para expor uma realidade irreal”, constata.
Segundo Amanda, a necessidade exacerbada de obter likes nas redes sociais esconde, na verdade, a insegurança do indivíduo. “Quando nos percebemos inseguros, desamparados ou com a autoestima baixa tendemos a buscar aprovação, amparo e o asseguramento nos outros. Os likes são um reforço positivo instantâneo. que gera reafirmação e autoafirmação. Porém a duração deles é curta, se desfaz rapidamente. Então, se torna necessário fazer algo novo para conseguir mais likes e mais reforço positivo, o que gera um círculo vicioso.”
Ocorre que para manter uma mentira são necessárias mais mentiras. Há também o perigo de a pessoa viver fazendo comparações. “Ao ver fotos e vídeos de outros perfis ela começa a fazer comparações injustas e estas a levam a erros de pensamento como ‘se ela viaja três vezes por ano, eu deveria viajar também’. Esse pensamento gera emoções desagradáveis, como inveja, tristeza, ansiedade, angústia, raiva, medo, autocomiseração, entre outras, e instabilidade”, diz Amanda.

Inveja e solidão

Segundo o pesquisador Rafael Barrio, do Instituto de Física da Universidade Nacional Autônoma do México, mentiras são comumente produzidas nas redes sociais e são um elemento substancial para manter a virtualidade das relações entre as pessoas.

Outra pesquisa, feita pelo jornal norte-americano American Journal of Preventive Medicine em parceria com a Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, mostra que quem usa constantemente as redes sociais tem maior probabilidade de desenvolver solidão e inveja. E tem mais: um estudo da Kaspersky Lab, empresa russa produtora de softwares de segurança para a internet, afirma que uma em cada dez pessoas distorce o conteúdo que posta nos sites para se sentir melhor.
Há uma explicação para que sentimentos negativos se desenvolvam mais facilmente na atualidade. Antigamente, para se obter notícias de alguém distante era muito demorado. Só se sabia da vida de alguém por meio de carta ou de uma ligação telefônica. Hoje em dia, a informação chega de modo quase imediato e, com ela, também surgem as cobranças e comparações sociais.
“A máxima de que a grama do vizinho é sempre mais verde é muito antiga. Até o início dos anos 2000, a admiração e a busca por pertencimento eram feitas com base em artistas e celebridades que apareciam na TV, mas elas ainda eram mediadas e separadas pela questão do status social, que diferenciava as celebridades das pessoas comuns. Com as redes sociais, as celebridades passaram a ser pessoas comuns e a cobrança e a comparação aumentaram. A blogueirinha se tornou digital influencer. Logo, todos podemos ser famosos, mesmo que só por alguns minutos”, observa Amanda.
Fonte: universal.org

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