terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Você se distrai com o celular?

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A distração provocada pelo smartphone quase tirou a vida de uma jovem espanhola. Ela se distraiu olhando para o celular e caiu nos trilhos do metrô de Madri, na Espanha, poucos segundos antes da chegada do trem. A situação poderia ter virado uma tragédia, mas ela conseguiu se encaixar no vão de segurança e saiu ilesa. O incidente foi gravado pelas câmeras de segurança do metrô há cerca de dois meses e divulgado na página oficial da empresa para alertar outros usuários.
Caminhar olhando para o celular é uma atitude comum também no Brasil. Nos grandes centros urbanos, cada vez mais pessoas estão conectadas às telas e desconectadas do que acontece ao seu redor. O novo hábito já traz graves consequências.
Mortes
O uso de celular ao volante é a terceira maior causa de acidentes de trânsito no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). De acordo com um estudo da associação, cerca de 150 pessoas morrem por dia vítimas de motoristas desatentos em razão do uso do celular. O número equivale a mais de 54 mil óbitos por ano no Brasil. O uso de celular aumenta em 400% o risco de sofrer um acidente de trânsito, de acordo com a Administração Nacional de Segurança Viária dos Estados Unidos (NHTSA, na sigla em inglês).
Distrações
Rodrigo Lago, especialista em tecnologia da OTUS X, destaca que os smartphones estão se tornando uma extensão do corpo das pessoas por causa dos inúmeros atrativos que oferecem. “O celular já faz parte da nossa vida. Hoje, é possível esquecer a carteira, mas poucos se esquecem do celular. Ele está sempre à mão. Os smartphones oferecem diversos estímulos que atraem a atenção da pessoa.Eles foram desenhados para isso. O celular toca, vibra, manda notificações e nós nos acostumamos a não perder nada. Queremos saber tudo em tempo real”, avalia.
Apesar dos benefícios que o celular traz, ele deve ser usado com moderação. Rodrigo cita o abuso de uso do celular no trânsito: “muitos motoristas aproveitam as paradas no semáforo para mexer ou falar ao telefone e isso causa muitos acidentes.” A legislação federal de trânsito do Brasil proíbe o uso do telefone enquanto o veículo está em deslocamento. O aparelho só é permitido na função GPS e deve ser fixado no para-brisa ou no painel dianteiro. Vale lembrar que o motorista deve indicar o endereço de destino quando o carro ainda estiver parado.
Busca vazia
A psicóloga clínica e neuropsicóloga Néia Martins diz que o aumento no uso do aparelho pode levar a uma desconexão com a realidade. “As pessoas ficam tão voltadas para o mundo digital que estão se esquecendo da realidade, do que é palpável. O mundo digital é um mundo feliz que muitas vezes mascara a verdade e afasta as pessoas.”
Ela acrescenta que o excesso de imagens e informações leva a uma falta de sentido, pois já não há tempo para a reflexão e para o compartilhamento de experiências com outras pessoas. “O celular gera uma busca desenfreada para satisfazer uma necessidade que cada um tem, mas é impossível alcançar essa plenitude por meio do celular. O mundo digital é supérfluo, muito voltado para as aparências e para o momento presente”, diz. Ela lembra ainda que o excesso de uso leva ao afastamento entre familiares, amigos e até casais.
Mais celular, menos inteligência
As distrações provocadas pelo celular também prejudicam o desenvolvimento cognitivo. “O celular pode afetar a inteligência. O foco é muito importante para que consigamos executar algumas tarefas, mas o celular tira a nossa atenção”, afirma Néia.
Um estudo da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, comprova que o uso constante de celular provoca estímulos cerebrais que reduzem a inteligência e a capacidade de atenção. Após a realização de dois testes, os cientistas concluíram que as pessoas têm pior desempenho em tarefas se estiverem com um aparelho ao seu lado ou no bolso, mesmo que estejam desligados. O fato de ter o telefone ao alcance da visão reduz ainda mais a capacidade cognitiva, pois o aparelho gera distração. A pesquisa foi publicada em 2017 em um periódico da Universidade de Chicago.

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