sábado, 27 de junho de 2020

Valorizando o que é nosso: Francisco Antônio dos Santos (Mechinha) e Dona Maria das Dores dos Santos (Maria Pinico)


Muitas vezes é assim mesmo, a carga dos anos e os desafios da vida nos fazem fortes, nos fazem escrever nossa história de vida simplesmente vivendo o que a vida nos oferece. Para quando chegar perto do final podermos sentar e com aquela autoridade que os anos nos deu falar para aqueles que querem escutar e valorizar nossa existência o que a vida tem a nos oferecer de bom e quais os estreitos caminhos que devemos nos guiar para que o mal se afaste de nós.

Na fotografia um registro onde o tempo se encarregará de tornar imortal, inesquecível como a passagem dessas duas figuras pela terra do Bom Jesus dos Navegantes. Tesouros que guardam momentos que fizeram a Touros de hoje existir, mas que jamais esquecerão a Touros de antes.

A Touros tão deles, onde tinham a atenção de seus antepassados, amigos, conhecidos e a liberdade que fazia deles personagens que compunham a paisagem e a vida da Vila saudosa, em todos os sentidos.

Hoje podemos ver no rosto de ambos, muitos anos de luta e sofrimento, mas nada que um sorriso de ambos não traga de volta a chama que os transformaram em símbolos de um tempo de dificuldades, misturado com uma felicidade ingênua e uma vontade de viver, de lutar de existir que falta em muitos jovens de hoje.

Se a vida hoje está estreita como um beco estreito, é sinal de que ela foi larga como um oceano que seu Francisco Antônio dos Santos (Mechinha) enfrentou sem medo, sem culpa, sem recuar, sem pensar em nada a não ser criar sua família sem temer o desaparecimento nas águas fundas do mar tourense.

Hoje as ondas são as marcas de seu rosto, o balanço da jangada é seu caminhar entre as ruas da cidade. Sem cobrar nada mais a Deus, um olhar distante anuncia os sinais expostos do velho homem do mar que soube ancorar sua jangada e ver sua missão cumprida com a mesma simplicidade de quando entrou no mar pela primeira vez, ele o deixou. Mas esse mar ainda mora dentro dele, um mar as vezes revolto, mas cheio de encantos. Um fim de tarde um sorriso com os amigos e a autoridade de quem sabe a dureza de viver.

A beleza de ver nossa Touros criança, adolescente e adulta para ele não muda nada, os seus princípios são singelos e fiéis ao que aprendeu dos antepassados, em tempo onde isso tudo era possível, sem escola formal, pois tem doutorado em vivência e pós doutorado em sobrevivência na faculdade da vida e sua pesca hoje dentro de se em um oceano particular e a cada passo dado hoje é pisar machucando um pouco s lembranças da eterna e amada Touros do passado.

Ela uma das pessoas que nunca que não precisou escrever livro, peça de teatro, documentários pois ela em se já congrega tudo isso. Sua vida é uma super série de fatos, dramas, comédias, superação, folclore, alegrias, sofrimentos, sorriso e prantos. 

Ela ajudou e ajuda a manter viva nossa tradição de produzir figuras fantásticas, que nunca precisaram de poder econômico, nome de famílias tradicionais para marcar nossa história. Viúva de um homem que marcou profundamente o folclore tourense por seu talento o saudoso Cicero Pinico que muitas vezes gritava para o mundo “vocês mangam de mim, mas na realidade eu sou um artista”, coisas de Touros não valorizar seus talentos. 

Maria das dores dos santos (Maria Pinico) uma lutadora, ela uma insubstituível bandeirinha, ela que tanto andou nas casas de farinha raspando mandioca ate altas horas da madrugada, ela que por seu carisma é um das estrelas do grupo de idosos, ela que sempre desobedeceu as regras sociais e viveu do jeito que quis, lutou pra criar a família.

Seu jeito e talento não podem ser imitado, onde passou deixou sua marca em uma Touros que admitia as brincadeiras inocentes, das noites de boemia com as amigas, dos carnavais inesquecíveis junto ao esposo organizando os tradicionais índios Guaranis no Largo Nossa senhora. 

Hoje como essa foto ao lado de seu irmão há uma melancólica saudade de tudo e de todos, há um eterno ensinamento, uma vontade de reencontrar todos, uma nostalgia que as vezes até dói ,se disfarce um olhar meio tristonho aparece do nada e invade o fim de tarde opor do sol, como o fim de um ciclo de tradições que não voltam mais. 

Lembranças das festas simples organizadas com o propósito de se divertir tão somente, agitando as noites silenciosas e calmas da pequena Vila em que o silencio só era interrompido apenas pelo barulho do mar e o farfalhar dos coqueiros.

Nesse tempo Touros como uma só família se reunia nestes locais e Maria sempre esteve presente. Como ainda está presente mostrando a todos nós que apesar de todos os aspectos de uma vida difícil para ajudar a criar a família ela resiste como um diamante. 

Ela a mulher multifacetada pode agora sentar e olhar o beco da vida estreito e assim dizer eu fui tudo que desejei ser eu fiz tudo que quis fazer eu fui de mãe até desempenhar várias funções de trabalho de todos os tipos mas consegui não preciso dizer minha Touros sabe quanto bem a representei e lutei para fazer seus dias mais felizes da forma que foi possível. 

E hoje todos nós que vemos nossa Touros de hoje não podemos esquecer de quem fez a Touros de ontem. Desde o bravo e simples homem do mar até a sensibilidade para as artes e as dificuldades de ser mãe em tempos difíceis. Mas como diz a música de nosso mais tradicional grupo folclórico “segure a bandeira não deixe cair”.

E vocês nunca deixaram a bandeira cair. E é por isso que ao Senhor Francisco Antônio dos Santos (Mechinha) e Dona Maria das Dores dos Santos (Maria Pinico), Touros vem dizer muito obrigado!

Autor: Flávio Santos

Nenhum comentário: