2. O Começo
Tudo começou a mudar em mim a partir do dia seguinte ao pacto com ele. Naquele momento, eu não sabia que se tratava de um pacto, porém, o certo é que o fiz. Como era verão e estávamos de férias escolares, minha mãe me deixou ir a um parque chamado Muxito. Ao chegar, encontrei alguns colegas que estudavam na mesma escola que eu. Perguntei-Ihes o que faziam ali. Uma delas me respondeu: "Vem, Fátima! Vamos fumar um charro*". Sem saber do que se tratava aquela expressão, perguntei-lhe o que era aquilo, ao que elas disseram: "Vem, você vai ver como vai se sentir bem! Experimenta."
Este foi o começo do meu caminho com as drogas, aos 12 anos fumei ópio. Senti-me toda adormecida. A partir desse dia, o meu modo de vestir, falar e de ser começou a mudar radicalmente. Na rua eu era uma pessoa, mas em casa era outra, sempre vendo o tal anjo, e ele constantemente perto de mim. Eu e o "anjo" conversávamos muito. A princípio, quem me ouvisse, pensava que eu tinha um suposto amigo imaginário.
Ele me disse o seu nome: Pailac. Estávamos no ano de 1997. Não posso dizer que era a melhor aluna da escola, mas em uma disciplina em particular eu era mesmo a melhor: Educação Física, mais precisamente, ginástica. Excedia as expectativas dos professores, ganhava todas as provas a que era submetida, e o "anjo" sempre comigo. Fui conhecendo novas drogas: marijuana, haxixe, LSD, etc. Falarei acerca das drogas nos capítulos à frente. Neste percurso tive várias experiências e acreditava realmente que ele era o meu anjo da guarda. Aos 16 anos, subi ao palco para realizar um espetáculo com um cantor conhecido. Conheci pessoas importantes. Quando alguém me desafiava dizendo: com convicção: "Vai ver se não vou!". Bastava eu querer e o anjo me dizia: "Você vai ter!". E de fato eu tinha, porque ele fazia acontecer. Tornei-me uma pessoa estravagante, me diziam as pessoas. Era muito altiva e arrogante, mas, ao mesmo tempo, conseguia mudar facilmente quando me convinha.
Tinha duas amigas e vizinhas de infância que frequentavam minha casa desde criança (não cito nomes porque não é necessário). Elas sabiam da existência do "Pailac" e me pediam para lhe perguntar coisas. Elas não o viam, mas sentiam a presença dele e viam objetos se mexendo várias vezes. Hoje acredito que ele as usava. Essas minhas amigas tiveram um fim muito triste no decorrer de suas vidas. Uma foi prostituta e a outra se viciou profundamente na heroína. O "anjo da guarda" disse-me que eu seria muito rica e que só casaria com o homem que ele me dissesse. E assim aconteceu. Em 1982 casei-me, embora contra a vontade de meus pais e para espanto de todos que me conheciam. Não sei como me apaixonei.
A essa altura, estudava à noite no Pragal. Foi uma paixão doentia. Fiquei loucamente apaixonada de um ano para o outro; uma coisa esquisita. É que eu o conhecia e não gostava dele, mas de repente me apaixonei. Até uma colega que sabia da minha irritação por ele, disse-me: "Puxa, Fátima, você não o suportava, mas ficou assim, tão caída por ele!" Hoje entendo que foi o "anjo". O meu marido era de uma família rica.
Meu casamento foi uma grande festa. O "anjo" comandou tudo, até o meu vestido de noiva foi escolhido por ele. O "anjo" já tinha se apoderado de minha vida, mas eu não sabia. No dia do meu casamento, lembro-me perfeitamente que fui para o quarto de minha mãe e me ajoelhei. Chorei muito. Minha mãe entrou no quarto e me perguntou o que estava acontecendo. Eu respondi que sentia uma tristeza e nem sabia o motivo. Nesse momento, lembro-me de ter visto o tal "anjo" olhando para mim, sorrindo, mas eu não entendia.
Próximo capítulo: 3. Matrimônio infernal (aguardem)
Nenhum comentário:
Postar um comentário