Tudo começou quando o jovem Manoel Geraldo Soares, nascido em Lisboa – Portugal em 12 de outubro de 1863 chegou ao Brasil, depois de uma longa viagem de sua terra natal, vindo numa barca que transportava bacalhau, desembarcou em João Pessoa-PB com seus familiares, que ficaram entre Solânea - PB e Serra de Dona Inês – PB.
Posteriormente o jovem Manoel Geraldo Soares comprou uma propriedade por novecentos mil réis situada no Rio grande do Norte, mais precisamente no distrito fundado por ele, chamado de Barra do Calabouço que depois levaria seu nome Barra do Geraldo, na época aquelas terras pertenciam ao Município de Nova Cruz – RN, hoje pertencente ao Município de Passa e Fica-RN.
Em 19 de maio de 1898 recebeu sua Carta Patente decretada pelo Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, Prudente de Moraes, que foi assinada no Palácio da Presidência no Rio de Janeiro, recebendo a Graduação de Tenente. Foi empossado no dia 14 de Março de 1899, no Quartel do Comando da 10ª Brigada de Infantaria da Guarda Nacional da Comarca do Curimataú, comandada pelo General Comandante António Fernandes Borges, passando ele a comandar toda aquela região.
Tornou-se fogueteiro e abriu uma casa de fogos por ser astuto e muito inteligente logo foi melhorando sua vida e de sua família tornando-se um grande proprietário de terras, ele trouxe o primeiro automóvel a região o famoso Ford 29 movido a manivela ao qual causou grande espanto e alvoroço para população, pois se falavam até ser o fim dos tempos por nunca terem visto um automóvel, além do gramofone onde ele ouvia às belas canções. Foi daí então que tudo foi tendo êxito e quando começou suas benfeitorias, vendo que a sua população estava crescendo teve os primeiros projetos em mente e pondo os em prática.
Em 1910, construiu o cemitério da Barra do Geraldo para o repouso dos seus entes queridos, construiu também a primeira capela que ficava localizada na Barra de Baixo próximo à sede de sua fazenda. Aos seus cuidados todos os dias eram tocado o sino na hora da Ave Maria e todos os falecidos eram anotados, era muito organizado e cuidadoso com os princípios da religião católica.
Ao início de tudo ele mesmo lia às escrituras e após explicava para população, por ser muito culto em sua casa havia uma estante cheia de livros e recebia um jornal que era fornecido diretamente do Rio de janeiro e deixado na cidade de Nova Cruz-RN, aos cuidados de um encarregado que tinha a obrigação de entregá-lo na sua residência. O terço era sagrado todos os dias e por ser um católico praticante ele seguia jejum de 40 dias rigorosos na quaresma, mesmo quando idoso o santo rosário era rezado por ele e sem interrupção.
O padre Luiz Adolfo veio para conhecer a capela a convite do patriarca do povoado e achou muito bonito os esforços do senhor Tenente para semear a palavra de Deus. Aproveitando então o momento o Tenente falou com o padre para realizar missas na sua capela, e então todo mês seguia a tradição ao qual seu filho José Soares Ribeiro (José Pachico) saia logo cedo a cavalo e levando outro cavalo selado para o Padre e ao término da celebração o seu filho repetia a mesma trajetória.
Após passar algum tempo, também construiu o primeiro cruzeiro para que os cristãos pagassem suas promessas e também poder acender velas para seus santos, este antigo cruzeiro tinha uma cruz bem grande de madeira rústica e de um lado tinha um símbolo de um martelo, do outro era um torquês e bem no alto e no centro daquela cruz tinha um símbolo de um galo e essa era a simbologia do cruzeiro, que logo após Passa e Fica se emancipar o prefeito daquela época o senhor Celso Lisboa mudou para o local que está até os dias atuais.
O senhor Tenente era um devoto fiel de São Geraldo, mas certo dia ele vinha cavalgando com seu melhor amigo seu cavalo "melado", quando de repente o cavalo se assustou não se sabe por que, infelizmente, o senhor Tenente Manoel Geraldo Soares caiu em cima de uma planta venenosa que continha muitos espinhos, ele ficou muito adoentado passando por momentos febris e de muito delírio, médico não tinha para o examina-lo e todos falavam que o Tenente estava desenganado e já esperavam por sua morte, quando ele clamou por Nossa Senhora Aparecida pedindo a cura, fazendo assim a promessa que mudaria o nome de Barra do calabouço para Barra do Geraldo em homenagem a São Geraldo e mudaria a padroeira que era Nossa Senhora da Conceição para Nossa Senhora Aparecida e no outro dia já se viu às melhoras no seu quadro de saúde, como um milagre majestoso o senhor Tenente Manoel Geraldo Soares se reabilitou e levantou-se do seu leito.
Foram dias de muitas festas e agradecimentos na capela daquele povoado, então o Tenente encomendou uma imagem belíssima imagem de Nossa Senhora Aparecida e vindo a cavalo escoltada por seus empregados. Na sede da fazenda todos esperavam a chegada da padroeira da Barra do Geraldo, quando foi avistado o Tenente ajoelhou-se e agradeceu o milagre. Ela ficou a noite toda exposta na mesa da sua casa e ali foi a noite de oração e agradecimentos, ao outro dia ela foi levada a capela em procissão e muitos fogos foram soltos, daí então a festa que era comemorada no dia 08 de Dezembro mudou-se para 12 de Outubro no momento que o padre benzeu a imagem tornando-a Padroeira da Barra do Geraldo, e ela foi benta pelas mãos do padre Omar Bezerra que congregava na cidade de Nova Cruz, sendo o segundo padre que passou pela Barra do Geraldo.
O mês Mariano era recebido com honrarias, muitos fogos, rojões e balões. Tinham às famosas girandas e a queimagens de flores trazida pelas mãos das donzelas com lenços brancos que eram entregues com os benditos mais belos e assim seguia a tradição.
Após o falecimento do Tenente Manoel Geraldo Soares, que se deu no dia 23 de junho de 1944 a Barra do Geraldo perdia um homem de fé que amou a Deus e foi fiel aos princípios da igreja, e para a tristeza dos filhos e para o povoado que ele tanto cuidou, um sobrinho seu o senhor Porfirio tomando a frente da situação e desfez aquela capela e construiu a atual Igreja Católica da Barra do Geraldo para que ficasse mais próximo a sua residência, tal casa que até hoje permanece ainda no povoado sendo uma das mais antigas. Porém nesse período aconteceu um fato relatado pela população, o sino da igreja foi levado para a igreja do catolé e foi colocado na nova igreja da Barra do Geraldo outro sino este que por sinal estava quebrado e era bem menor, segundo os relatos o senhor Porfirio sobrinho do Tenente seguiu as ordens do padre atual da época que se chamava padre Pedro.
Após todos esses acontecimentos graças a Deus, todos os esforços não foram perdidos, pois outro sobrinho do Tenente o senhor Tiné filho do seu irmão Cerino e porventura casado com a filha do Tenente a senhora Inácia, não deixaram a religião morrer, construíram também em sua casa um altar onde se eram rezados os terços Marianos e o senhor Tiné tomou a profissão do seu tio tornando-se assim o fogueteiro do povoado onde eles faziam a festa da padroeira ser inesquecíveis com muitos fogos e muitas orações. Assim permaneceu a fé e a tradição do povoado de Barra do Geraldo e passando de geração a geração.
O Tenente Manoel Geraldo Soares faleceu em 23 de Junho de 1944, seu corpo encontra-se sepultado no cemitério que ele construiu sendo visitado anualmente no dia de finados por familiares, amigos e admiradores, deixando seu legado vivo nas memórias destes.
Autores: Edilson Soares Ribeiro e Silvana Flor.
Bisnetos do Tenente Manoel Geraldo Soares, primos de João Nelo de Oliveira.
Um comentário:
Boa noite, agradeço ao primo João Nelo pelo espaço cedido, para divulgarmos a história do nosso bisavô Tenente Manoel Geraldo Soares, fundador deste Distrito Centenário situado na jovem cidade de Passa e Fica que possui apenas 57 anos de sua emancipação política. Forte abraço e estamos gratos.
Postar um comentário