Quando se fala em educação no Brasil, logo relacionamos o tema aos professores. Quase automaticamente muitos colocam a culpa dos males da educação brasileira nas costas deles. Mas esse pensamento não condiz com a realidade.
Uma pesquisa realizada recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo que agrega 34 economias avançadas ou emergentes, traz dados que ajudam a mudar essa visão superficial a respeito dos professores.
De acordo com o estudo intitulado “Olhar sobre a Educação”, que compara a situação da educação em 45 países, o Brasil desponta como uma das nações mais hostis para professores de escolas públicas.
Para se ter uma ideia, os docentes brasileiros dos ensinos médio e fundamental recebem menos da metade do que a média dos países-membros da OCDE. Em compensação, professores universitários em instituições federais públicas no Brasil recebem entre US$ 40 mil e US$ 76 mil ao ano (de R$ 125,5 mil a R$ 238,6 mil), valor mais elevado do que em vários países da OCDE e equivalente ao de países escandinavos, como Finlândia, Suécia e Noruega.
Mas essa não é a regra por aqui. Se, por um lado, o Brasil gasta US$ 13,5 mil (cerca de R$ 42,4 mil) por aluno universitário ao ano, índice próximo à média da OCDE (US$ 15,8 mil), por outro, o custo com cada aluno do ensino fundamental ou médio, de US$ 3,8 mil ao ano (cerca de R$ 11,9 mil), é menos da metade da média da OCDE (US$ 8,5 mil, no fundamental e US$ 9,8 mil, no médio).
Violência na sala de aula
Outra pesquisa da OCDE coloca o Brasil na liderança de um ranking de violência nas escolas. Em 2014, a organização entrevistou mais de 100 mil professores e diretores de escola em 34 países. No Brasil, 12,5% dos educadores ouvidos disseram sofrer agressões verbais ou intimidações de alunos ao menos uma vez por semana. A média entre todos os países foi de 3,4%. Em alguns deles, como Coreia do Sul, Malásia e Romênia, o índice foi zero.
As pesquisas dão um breve panorama das condições a que estão sujeitos os professores da rede pública de ensino no Brasil. No País, muitas vezes, o professor é obrigado a cumprir jornadas duplas e dar aulas em mais de uma escola no mesmo dia porque o salário não é suficiente para manter uma vida digna nem traduz financeiramente as responsabilidades que essa profissão tem.
Se a família é a base da sociedade e os pais têm um papel fundamental como os primeiros educadores de seus filhos, ao professor cabe a difícil tarefa de lapidar esses diamantes brutos, transmitindo conhecimento e possibilitando aos alunos mecanismos que os façam pensar e fazer considerações de forma inteligente para escolher os melhores caminhos em suas vidas.
Porém, a realidade é outra. Quem critica os professores deveria entrar em uma sala de aula e conhecer as dificuldades do sistema educacional brasileiro, entre elas o fato de que muitas crianças chegam com uma série de carências com as quais o professor tem de lidar. Desestruturação familiar, fome, falta de perspectiva e violência são algumas delas. E a violência acaba se reproduzindo com o professor, que muitas vezes é intimidado pelos alunos e até pelos pais deles.
Diante disso, ensinar ficou em segundo plano. Além de compreender essas mazelas, o professor assumiu um papel que não é o dele: ser babá, terapeuta, amigo, etc. Se o sistema de educação tem falhas e pouco investimento por parte dos governantes, não adianta culpar o professor. É preciso valorizar esse profissional e oferecer estrutura digna de trabalho, além de possibilitar um salário justo e compatível com as suas funções. A corda costuma arrebentar do lado mais fraco, mas apontar o professor como culpado não resolve os problemas.
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