Você
acorda com o celular, vai ao banheiro com ele, olha a tela a cada
minuto e não desgruda nem durante o almoço? Pois é, nos últimos anos, o
celular ganhou lugar de destaque na vida das pessoas. Com o aparelho, é
possível falar com familiares, marcar reuniões, fazer dieta, ler
notícias, ver filmes, buscar emprego e obter uma série de vantagens. O
problema é que cada vez mais pessoas não conseguem viver sem o celular e
passam várias horas no aparelho sem perceber.
Dependência
Existe uma medida para que o uso do celular seja saudável? Quem
explica é Sylvia Van Enck, psicóloga do Programa de Dependências
Tecnológicas do Pro-Amiti, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas de São Paulo (FMUSP): “quando a pessoa não tem possibilidade de
usar o celular e entra em uma ansiedade muito grande, fica toda hora
conferindo para saber quando a rede vai voltar e não consegue se
concentrar em outras atividades, já está caracterizada a dependência”,
diz. O medo de ficar sem celular tem até nome: nomofobia.
O avanço da tecnologia e a mudança de hábitos contribuem para a
dependência do celular. “As pessoas estão cada vez mais conectadas aos
recursos que o celular oferece, passam a usá-lo cada vez mais e isso de
alguma forma as leva a acreditar que precisam estar atentas a tudo”,
afirma.
Sylvia acrescenta que o uso do celular ajuda a liberar um hormônio no
cérebro que dá a sensação de prazer, o que contribui para a
dependência. “Se a pessoa passa cerca de oito minutos no celular, o
cérebro libera dopamina, o que traz a sensação de prazer e alivia
momentos de tensão e preocupações. Isso também é uma oportunidade de a
pessoa adiar uma decisão ou atividade em que ela não esteja muito
segura, é uma espécie de fuga”, esclarece.
Riscos
O
uso excessivo do celular pode prejudicar a comunicação entre as
pessoas, promover o isolamento, colocar a vida em risco e até provocar
brigas familiares. “Muitos atravessam a rua olhando o celular e não
percebem o que ocorre no entorno. Outro aspecto é que as pessoas se
acomodam com a comunicação virtual e perdem oportunidades de contato
presencial. O uso de abreviaturas e emojis prejudica a atenção, a
compreensão e a própria linguagem”, alerta. Pessoas dependentes de
celular podem se afastar de amigos, desenvolver ansiedade, perder
momentos importantes em família, ter dificuldades no trabalho e
problemas para dormir.
Limites
O uso moderado do celular exige autocontrole e determinação para
criar limites, pondera Sylvia Van Enck. “Se não existem limites, a
pessoa fica horas conectada só respondendo mensagens que geram outras
mensagens, principalmente no caso de quem participa de grupos. Coloque
um período para responder mensagens, por exemplo”, ensina.
Ela também sugere que o celular seja desligado em alguns momentos do
dia, como durante os estudos ou o trabalho. E, se o celular já afeta as
relações familiares, é importante buscar ajuda especializada. “Nós
orientamos a buscar uma terapia familiar, pois o problema afeta toda a
família.” Ela diz que não adianta quebrar o aparelho ou ameaçar a pessoa
que está dependente do celular, pois ela vai buscar o recurso em outro
lugar.
Crianças e tecnologia
As
crianças estão conectadas ao celular cada vez mais cedo, mas muitos
pais desconhecem os riscos do aparelho. A neuropsicóloga e mestre em
psicologia Deborah Moss lembra que a Sociedade Brasileira de Pediatria
recomenda que crianças de até 2 anos fiquem longe de tecnologias como o
celular. Entretanto, ela admite que não é possível apenas proibir o uso
pelos pequenos. “A tecnologia faz parte da realidade dessa geração desde
o nascimento, não dá para negar. Mas é preciso analisar os riscos,
definir limites e orientar as crianças desde pequenas”, explica.
“Antigamente, os pais falavam para não conversar com estranhos, não
aceitar balas na rua, tinha hora para voltar para casa, os pais davam
limites. Com o celular é a mesma coisa.”
Após os 2 anos de idade, o uso do celular e outras telas deve ser
limitado a poucos minutos por dia, recomenda. Deborah destaca que os
pais devem dar o exemplo e evitar o uso excessivo do aparelho, além de
oferecer opções de lazer longe das telas.
Antes de comprar um celular para a criança, ela aconselha os pais a
analisar se o aparelho é realmente necessário. “Com o celular, a criança
corre o risco de entrar em situações em que não tem maturidade para
lidar”, afirma. “A tecnologia veio para ampliar possibilidades, mas está
limitando-as porque as crianças estão ficando obesas, com problemas de
coluna e outras doenças relacionadas ao excesso de uso”, adverte.
Fonte: https://www.universal.org/noticias/quanto-tempo-voce-passa-no-celular
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