A personalidade construída
sobre o crepitar das ondas
Alguns meninos cresceram correndo pela areia. Seus avós
tinham sido pescadores, seus pais foram pescadores e eles eram pescadores. A
história deles estava cristalizada. Todos os dias enfrentavam a mesma rotina e
os mesmos obstáculos. Queriam mudar de vida.
Mas faltava-lhes coragem. O
medo do desconhecido os bloqueava. Na mente desses jovens não devia passar
inquietações sobre os mistérios da vida. A falta de cultura e a labuta pela
sobrevivência não os estimulavam a grandes voos intelectuais. Nada parecia
mudar-lhes o destino, até que surgiu no caminho deles o maior vendedor de sonhos
de todos os tempos.
Havia um homem que morara
por trinta anos num deserto. Seus discursos eram estranhos, seus gestos, bizarros.
Estava perturbado com a ideia fixa de que era o precursor do homem mais
importante que jamais pisaria na Terra. Seu nome era João Batista.
Multidões se aproximavam
para ouvir seus discursos. Ele teve a coragem de dizer que o homem que aguardava
era tão grande que ele mesmo não era digno de desatar-lhe as correias das
sandálias. Esses discursos desenhavam na mente dos ouvintes os mais diferentes
quadros. Alguns achavam que o homem anunciado apareceria como um rei. Outros
imaginavam que ele apareceria como um general, acompanhado por grande escolta.
Todos o aguardavam ansiosamente e esperavam um discurso arrebatador.
De repente, surgiu um homem
simples. Ninguém notou. Suas vestes eram surradas, sem nenhum requinte. Sua
pele era desidratada, seca e sulcada, resultado do trabalho árduo e da longa
exposição ao sol. Não tinha escolta, não tinha carruagem, não tinha serviçais. Procurava
passagem no meio da multidão. Tocava as pessoas com suavidade, pedia licença, e
pouco a pouco conseguia seu espaço.
João contemplou o homem dos
seus sonhos. Foi arrebatado por ele. A imagem da fantasia das pessoas, no entanto,
não coincidia com a imagem real. João via o que ninguém enxergava e, para
espanto da multidão, exaltou aquele homem simples.
As pessoas ficaram confusas
e decepcionadas. Elas esperavam pelo menos um belo discurso. Afinal de contas,
a fome e os transtornos sociais eram enormes. Elas precisavam de alento. Porém,
o homem dos sonhos de João chegou mudo e saiu calado. Desiludidas, as pessoas
se dispersaram. Mergulharam novamente na sua ente diante rotina. Mais tarde,
dois irmãos ergueram os olhos e viram uma pessoa diferente caminhando pela
praia. Incomodados, eles se entreolharam. Então, o estranho ergueu a voz e lhes
propôs: "Vinde após mim que eu vos farei pescadores de homens."
O nome dos irmãos que
ouviram esse convite era Pedro e André. A rotina do mar havia afogado os seus sonhos.
Mas apareceu-lhes um homem que lhes incendiou o espírito. Com uma sentença ele
os estimulou a trabalhar para a humanidade, a enfrentar o oceano imprevisível
da sociedade.
Jesus Cristo não havia feito
nenhum ato sobrenatural, no entanto sua voz tinha o maior de todos os magnetismos,
porque vendia sonhos. Vender sonhos é uma expressão poética que fala de algo
invendável. Ele distribuía um bem que o dinheiro jamais pôde comprar.
Quem se arriscaria a segui-lo?
Pense um pouco. Por que
seguir esse homem? QIe implicações sociais e emocionais essa escolha teria? O
vendedor de sonhos era um estranho para os dois irmãos. Não tinha nada de
palpável para oferecer a esses jovens. Você aceitaria tal oferta? Largaria tudo
para entregar sua vida em prol da humanidade? Jesus não prometeu estradas sem
acidentes. Mas prometeu força na terra do medo, alegria nas lágrimas, afeto no
desespero.
Parecia loucura segui-Io.
Mas como explicar o inexplicável? Pedro e André foram atraídos pelo vendedor de
sonhos, mas não entendiam as consequências de seus atos. Pouco depois, o Mestre
da vida encontrou dois outros irmãos, mais novos e inexperientes. Eram Tiago e
João. Eles estavam à beira da praia consertando as redes. O Mestre se aproximou
deles, fitou-os e fez o mesmo e intrigante convite.
Fonte: Augusto Cury, 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário