sábado, 25 de julho de 2020

Valorizando o que é nosso: Batista Tavares (Preá)


Nessa foto poderíamos resumir uma parte da vida ou até mesmo a vida inteira de nosso personagem. É uma foto que expressa o estado puro em que até hoje ele se encontra. A vida passa por nós, o tempo implacável não permite que voltemos um segundo sequer nessa louca travessia em que somos obrigados a fazer, é inútil pedir segunda chance ao tempo que nos consome a cada dia.

Algumas pessoas correm loucamente contra esse tempo infinito e veloz com o objetivo de querer domina-lo e fazê-lo obedecer a seus caprichos e suas vontades paliativas visto que nada podemos fazer diante do invencível e cruel tempo que reduz tudo ao nada. Só resta a maioria de nós obedecer algumas regras estabelecidas pela sociedade hipócrita e aguardar seu tempo chegar.

Ter em mente que enquanto estamos aqui reféns de um tempo juiz de todos nós é necessário fazer aquilo que a maioria consumista, capitalista e opressora determinou como o “certo”. Só que esqueceram a avisar ao nosso personagem que o “normal” seria seguir essas regras bem estabelecidas e com suas ambições e limites que já trazem em seus processos ridículos as leis que regem a vida das pessoas, que a sociedade hipócrita pressiona e aprisiona.

O nosso personagem não ostenta os valores materiais que tanto a sociedade nos cobra. Ele tem algo mais valioso a ostentar. A liberdade, é uma pessoa que as amarras da sociedade nunca tiveram poder sobre ele. O mundo que ele criou e vive é só dele, não deve nada, não tem de explicar nada, não espera nada, não critica nada. Pois em seu pequeno mundo ele tem um universo de possibilidades de ser feliz com aquilo que nunca lhe faltou, seu trabalho, amigos e a superação diária de preconceitos que se tornaram uma espécie de enfeite que ilustra seu lado folclórico e não tem mais efeito negativo.

O mundo dos outros passa veloz a sua volta, o transito, as conversas de rua, as intrigas mais banais, buzinas, gritos, som alto mas nada disse entra em seu mundo. Enquanto isso acontece você pode encontra-lo com as mãos sujas de graxa o rosto suado, sem camisa, um aspecto sério trabalhando com intensidade em mais um pneu que chegou a pouco para ser consertado.

Em seu mundo as vezes recluso há espaço para sua paixão flamenguista, há espaço para demonstrar sua habilidade no oficio que aprendeu do saudoso Grampão. Há espaço para uma espécie de solidão, é possível vê-lo  nas noites em que a brisa é mais suave a noite com sua postura característica mãos nos bolso e olhar fixo para o mar como se buscasse respostas para colocar no seu mundo.

Indiferente ao tempo que a sociedade impõe, seus gestos, palavras, conversas e escolhas são particularidades dele e só ele e seu mundo podem conversar sozinhos. Uma vida de dificuldades, uma busca pela fé. Honestidade, caráter, não há malícia, o que há é um talento naquilo que ele escolheu para se dedicar e fazer com garra e dignidade.

Desportista, goleiro que é um símbolo desta posição em nossa cidade. Chegou a disputar campeonatos, defendeu algumas equipes da nossa cidade, mas foi no São Paulo que fez história e que honrou a camisa desse clube que hoje faz falta em nosso futebol amador. Assim como escolheu seu mundo, escolheu sua posição no campo a mais injustiçada, mas como nunca esperou o glamour da fama no esporte, na profissão e na vida foi e é um vencedor.

Uma das figuras que ilustram o cenário popular de Touros em precisar da “riqueza” que a sociedade tanto deseja e tanto gasta seu tempo. O Seu tempo já está determinado pelos seus gestos, seu coração, suas derrotas, suas amarguras, os deboches sofridos, mas as alegrias que seu jeito de ser proporcionaram ao nosso povo em diversos momentos de sua vida, nas peladas, nos planos simples, na alegria de viver, na liberdade que tem de ser o que quiser ser sem se importar com nada ai reside sua riqueza. 

Uma riqueza medida por sua fama. Impossível não notá-lo, impossível não saber seu apelido. Quem é de Touros não pode ignora-lo ele é parte de nossa história contemporânea pelo ser que se tornou vivendo fora daquilo que chamamos de comum. Pelo trabalho diário, pelo atleta histórico que foi, pelas batalhas diárias que tem de passar diante de tantos desafios. Principalmente os desafios sociais que nossa triste sociedade insiste em não valorizar, em não respeitar em não ver.

Educado, trabalhador, talentoso, da paz, religioso e acima de tudo um batalhador não só no seu trabalho diário mas principalmente vencendo todo dia todo tipo de chacota e preconceito que ele aprendeu como bom atleta que foi a levar na esportiva. Por tudo isso Batista Tavares (Preá) Touros vem lhe dizer muito obrigado.

Autor: Flávio Santos

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