Deus o dotou com a fineza de um rei, naquilo que ele magistralmente fazia. Acredito que ele seja o responsável por ter invertido a lógica dos jogadores de sua posição. E dentro de campo, fez os adversários lhe respeitarem e se renderem ao seu talento.
Foi aquela mistura de Luís Pereira e Mauro Galvão, somente ele fazia as ameaças do time adversário parecerem uma jogada em vão devido a sua maestria em desarmar e sair jogando com a classe, a categoria, a visão de jogo, o tempo de bola e uma segurança que fazia a torcida sempre respirar aliviada quando a bola chegava aos seus pés.
Conquistou a liderança de todas as equipes por onde passou devido seu estilo de jogo do qual Touros jamais esqueceu ou encontrou outro parecido nesta posição. Aliás uma posição ingrata, mas que encontrou nele alguém que dominou todas as artimanhas, injustiças, responsabilidades e atributos que só os diferenciados recebem dos deuses do futebol.
Era a segurança mais potente que sua equipe precisava e ele sempre correspondeu da forma mais exata possível, foi idolatrado com toda justiça, foi o símbolo de uma era, ainda se mantém ao longo dos anos como o maior nome da posição, fez seu fino futebol alcançar a façanha de nós termos tido em nossa história futebolística um zagueiro que sem sobra de duvidas podíamos chamar de craque.
Ele acabou com o mito que todos nós temos de chamar de craque quem joga do meio para frente. Ele dominou sua posição como nenhum outro em nossa história. Tudo isso nos velhos campos de barro, areia ou mesmo piçarro onde sua técnica superava todos esses obstáculos.
Esse craque acabou com a imagem daquele zagueiro especialista em um tipo de lance: aquele bico para fora do campo depois de desarmar um adversário. E a torcida comemorava como se fosse um gol.
Mal sabiam os torcedores que os zagueiros faziam isso só porque se ele tentar um passe, a chance de errar é enorme. Uma vez que desarmou o adversário, o zagueiro só queria se livrar daquele estranho objeto esférico e voltar à caça de tornozelos, situação em que fica mais confortável.
Mas com ele essa dinâmica era coisa ultrapassada e sem efetividade afinal ele tinha o dom nato de perceber que o zagueiro era o anjo da guarda da defesa. E para ser um bom zagueiro não poderia ser muito sentimental, tinha que ser sutil e elegante, ter sangue frio, acreditar em si e ser leal.
Quem vive o futebol há de concordar em partes que essa posição sempre foi sinônimo de dureza, falta de habilidade e cheia de preconceitos. Nenhum torcedor gosta quando a bola está rolando entre os pés do zagueiro de seu time. Mas com ele isso foi elevado a aulas e mais aulas de como ser craque e ídolo jogando nessa parte do campo. Não é regra, mas a maioria dos zagueiros odeiam quando eles sobem para a área e a bola sobra nos seus pés. Ter a redonda nos pés, para um zagueiro, pelo menos para alguns era um tormento. Sem saber o que fazer, é como jogar futebol de terno. Por isso, ele trata de se livrar logo da bola. De preferência fazendo sinal de crucifixo.
Mas nos pés dele isso nunca aconteceu, pois, a bola era tratada como merece. Durante todos os anos que defendeu a mística equipe do Fluminense de Touros ou mesmo em outras equipes, seu nome sempre foi honrado, sua história foi escrita da mesma forma que Baiaca escreveu a dele e eu já citei em outra postagem. A grande diferença é que nosso personagem jogava em uma parte do campo onde pouquíssimos se destacam, onde esta parte esta reservada aos menos habilidosos, onde a torcidas só os veem quando cometem erros, quando a derrota é o resultado final.
E foi justamente aí que Nonato provou o contrário, transformando medo da torcida em segurança, matando no peito dentro da grande área durante um ataque do adversário, buscando saídas inteligentes e com a visão dos grandes camisas dez, com a tranquilidade de quem faz uma pelada na beira da praia.
Touros teve seu zagueiro craque, e provou sua versatilidade e sua genialidade também no futsal por muitos anos com as mesmas características que o transformaram no maior da posição da história do futebol amador no nosso município.
Com certeza ninguém pode comentar sobre a defesa de um time amador em todo nosso município e região sem citar seu nome nem seu lugar de melhor dos melhores. Jogaria sem nenhuma dificuldade em qualquer equipe profissional do Brasil sem discutir muito sobre isso pois quem o viu jogar sua importância e unanimidade permanecem intactas. Em relação aos outros parecia um profissional disfarçado de amador. Ele representa todos os zagueiros que Touros já teve uma espécie de rei e o dono da área naquelas guerras maravilhosas de noventa minutos
Por provar que zagueiro também pode ser craque e por fazer as antigas e saudosas tardes de domingo inesquecíveis naquele velho campo de barro, Nonato Touros e o futebol amador vem lhe dizer muito obrigado, você foi e continua sendo o maior zagueiro que nós tivemos em todos os tempos.
Autor: Flávio Santos
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