Ao tentar falar um pouco da atividade que essa pessoa escolheu como missão, me recorreu a lembrança do químico francês Lavoisier, quando falou “na natureza nada se perde nada se cria tudo se transforma”. E com essa pessoa essa frase se fez ação em nosso município a trinta e sete anos. Assim como também pensando em sua trajetória, hoje essa pessoa poderia sem constrangimento dizer a todos: reciclagem não é só no meio ambiente, mas também no ambiente do nosso ser. Algo que convido a todos nós tourenses a refletir ele nunca chegou a fazer essa afirmação, mas seu oficio fala por si só e nos alerta para algo que é a necessidade de valorizar cada vez mais nosso chão e principalmente as pessoas que dele cuidam.
Antes que nós pudéssemos pensar nas imensas responsabilidades que as questões ambientais e todas as suas variantes pudessem povoar as mentes dos tourenses. Nas escolas, nos debates políticos e a grande mídia começasse a levantar a bandeira da reutilização e destinação de tudo aqui que não servia mais ao nosso tão feroz consumo e muito deste consumo incentivado pela própria mídia capitalista, em nossa cidade alguém rompeu com as amarras sociais, enfrentou toda “ignorância” causada pela falta de informação de nosso povo e teve de aceitar, incorporar, adaptar, conviver com aquele que sabe que seria o maior de todos os desafios o preconceito marca que ele carrega até os dias de hoje.
O ano era 1983 e nosso personagem iniciava e dava projeção em nossa cidade a um trabalho que o mundo hoje tem como uma das bandeiras em todas conferencias sobre meio ambiente ao redor do mundo e temática obrigatória em cada estabelecimento de ensino em nosso país
Nossa cidade iniciava timidamente com a “expansão” muito acanhada até hoje. No seu comercio com a feira popular, com alguns estabelecimentos de compra e venda, com a atividade mais incisiva do mercado público, com a vocação que nunca chegou de ser um dos grandes polos turísticos do Estado.
Nesse ambiente surge essa figura, e é exatamente aí que está sua grandeza para o nosso município, no seu trabalho, na sua coragem, no seu pioneirismo n sua luta que continua até hoje e que a gente ainda não aprendeu, não tiramos muitas lições de seus exemplos. Ao contrário, promovemos durante anos um temporal de críticas ao seu trabalho, sua atividade por muito tempo foi motivo de chacota, seu meio de vida que parecia algo inusitado causava em nós alguma repulsa. Não por nossa culpa e sim pela falta de conhecimento e valorização dessa atividade que hoje é ensinada nas escolas.
Quantas vezes para criticar alguém, um colega, um irmão ou qualquer um que mesmo sem pretensão pegasse do meio da rua um papelão, um jornal velho, algo que alguém tinha jogado fora. Imediatamente chamava-nos a pessoa que fez isso pelo nome desta pessoa de forma pejorativa. Talvez querendo dizer que nos comparar-nos a suas atividades seu trabalho nos reduzia como seres humanos.
Ainda não aprendemos quase nada sobre reciclagem na prática, e ainda o criticamos mesmo sem querer, toda vez que somos responsáveis por jogar qualquer tipo de material reciclável no solo sagrado de Touros. Ainda não o vimos ao homem que inverteu a lógica e a dinâmica com a qual éramos acostumados ao perceber os amontoados daquilo que chamamos “lixo”, pelas nossas ruas e principalmente pelas nossas mentes.
O trabalho não parou, a idade não o parou, nossa produção demasiada de material reciclável não parou, vida em Touros não parou e uma mágoa também não acabou.
“Sofri muito e ainda sofro, tudo que os meus filhos possuíam o povo dizia que era do lixo, na escola os coleguinhas sempre diziam a meus filhos netos, esse caderno, lápis, mochila , sandálias até suas roupas tudo vem do lixo que seu avô pega para você, isso sempre doeu muito em mim ” palavras dele para mim no ano de 2013.
O homem de palavras fáceis, pele queimada, gestos mais lentos, cicatrizes nos braços, algumas quase fatais, causadas por ferimentos enquanto reciclava vidro, o olhar de conformismo e não de missão cumprida de alguém que fez da reciclagem sua meta e do preconceito uma força que o move através das décadas.
Um pouco arredio, fruto de décadas de descaso provocado talvez pela sociedade em relação ao importante trabalho que nunca desistiu de fazer e hoje o mundo acordou e afira que a reciclagem é um dos únicos caminhos se quisermos tornar esse planeta suportável nas próximas décadas.
O homem que hoje anda mais esquecido que antes, lota caminhões com aquilo que jogamos fora, mas já foi com sacos nas costas, em carroças com animais. Criou sua família com o que achávamos indigno e hoje queremos ensinar aos nossos filhos que devemos reciclar, mas ele foi o primeiro em nossa terra.
Alguns da família seguem seus passos já que nós não aprendemos nada sobre cuidar de nosso solo e de reciclagem eles continuam fazendo o mesmo trabalho iniciado em 1983
Por todo trabalho que o senhor dedicou a nossa amada Touros, mesmo incompreendido lançou as sementes de que precisamos cuidar de nossa terra pois aquilo que chamamos lixo é meio de vida para muitos. Por mesmo sem querer ensinar que devemos nos reciclar sempre como ser humano e enxergar que todo trabalho é digno. Senhor Manoel Cândido (Manoel Barbosa dos Santos) Touros vem lhe dizer muito obrigado.
Autor: Flávio Santos
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