quarta-feira, 4 de maio de 2016

Qual é o papel do pai na vida dos filhos?

Muitos pais já descobriram que a paternidade vai além de desempenhar apenas o papel de provedor. Entenda como a participação paterna pode trazer resultados positivos na vida da criança, da família e do próprio homem. 


Pais rígidos, de poucas palavras e sem participação na rotina dos filhos. Durante muitas décadas, esse foi o modelo mais conhecido de pai. Enquanto eles trabalhavam fora, as mães ficavam com a tarefa de orientar as crianças. Talvez por isso muitas pessoas ainda acreditem que a mãe é culpada quando algo dá errado na educação de um filho. Mas e o pai? Qual é o papel dele na vida dos filhos? Apesar da existência dessas crenças antigas, boa parte da sociedade brasileira reconhece a importância de pais mais participativos. Prova recente disso é a lei que aumenta a licença-paternidade de cinco para 20 dias (saiba mais na página 2). Nas ruas, parques e reuniões familiares, é possível observar novas atitudes em muitos pais, que agora conversam, alimentam e também trocam fraldas. “Ainda existe essa ideia de que o pai é coadjuvante na vida do filho, mas, na verdade, ele é protagonista junto com a mãe. Ele é importante no desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança”, destaca o psicólogo e professor universitário Breno Rosostolato, que atua em São Paulo. Para ele, o aumento da licença-paternidade é um grande passo. “O contato do pai com o recém-nascido é primordial não apenas pelos cuidados que a criança demanda, mas para que a mãe se sinta apoiada e a família fique ainda mais unida”, esclarece.

Bom para todos

Nos Estados Unidos, uma associação descobriu que a falta do pai provoca graves prejuízos para a criança, para a sociedade e também para ele mesmo. A ausência da figura paterna está fortemente ligada a fatores como gravidez na adolescência, delinquência juvenil, abuso, suicídio, drogas e consumo de álcool, segundo pesquisas da Iniciativa Nacional da Paternidade (tradução livre de National Fatherhood Initiative – NFI). Crianças que crescem sem o pai são quatro vezes mais propensas a viver na pobreza. Já a relação positiva com os filhos motiva os pais a levar uma vida melhor, até quando as circunstâncias são difíceis. Pais encarcerados que escrevem a seus filhos uma vez por semana melhoram suas chances de encontrar emprego e de se reinserir na sociedade.

Como começar?

Os palestrantes e escritores Renato e Cristiane Cardoso lembram que os pais não podem perder a autoridade na relação com os filhos. Para isso, deve-se evitar bate-bocas. “Se a criança tem que ir para a cama às 9 da noite, não discuta com ela sobre isso. Resuma-se a dar-lhe uma razão que ela possa entender”, escreve Renato em seu blog. Ele ainda defende que os pais precisam orientar os filhos a resolver problemas desde a primeira infância. “Os pais devem ensinar os filhos a pensar.” Cristiane acrescenta que os pais não devem se deixar levar pelas emoções dos filhos. “Às vezes o filho chega chateado, bate a porta, você vai falar com ele e ele grita. Em vez de gritar também ou criticá-lo, mantenha o controle. Você não precisa entrar no mesmo humor do seu filho ou filha. Talvez você tenha que deixar passar um tempinho para perguntar o que aconteceu.” O casal ministra a palestra “Transformação Total de Pais & Filhos”, aos domingos, às 18h, no Templo de Salomão, em São Paulo. A psicopedagoga e especialista em desenvolvimento infantil Sheila Leal diz que muitos pais têm dificuldade para interagir com os filhos. “Muitos não conseguem conversar ou brincar com os filhos, eles acham que não é necessário. O pai precisa mostrar que é amigo porque ele ajuda a formar o caráter do filho”, avalia. Até os homens que tiveram pais ausentes ou muito autoritários podem descobrir uma boa forma de educar seus filhos, equilibrando parceria e limites. “Com a paternidade, os homens aprendem a ser um pouco mais flexíveis. Eles observam como foi antes e não querem que algumas coisas se repitam”, resume Sheila, que é criadora do projeto Filhos Brilhantes, em Campinas (SP). A participação do pai também ajuda no desempenho escolar dos pequenos, segundo Inajara Simões, orientadora educacional de Ensino Infantil da Escola do Futuro, em São Paulo. Entre os reflexos positivos estão autoconfiança, criatividade, autoestima e preparo para resolução de conflitos. “O acompanhamento da rotina escolar deve ser equilibrado e ter como objetivo dar segurança para as crianças, incentivando-as a conquistarem mais autonomia.”

Pai Atento

Os filhos do gerente informativo Pericles dos Santos Pellegrini Filho, de 54 anos, (foto ao lado)  já estão crescidos. O primogênito, Pericles, tem 30 anos, e o caçula, Erick, 28 anos. Apesar disso, o pai diz que não deixa de se preocupar com a prole. “Eles já estão formados, mas ainda fico de olho, quero participar, saber o que eles estão fazendo. Estamos sempre próximos, conversamos por telefone, acompanho o que eles fazem nas redes sociais. Quero que eles estejam sempre felizes”, diz. Pericles conta que os filhos o levaram a repensar as próprias atitudes. “Com os filhos, nós queremos ser melhores para ensiná-los a ser pessoas melhores também. Eles trazem a necessidade do pai se corrigir. Quem não quer ser melhor para ser um bom exemplo aos filhos?”, indaga. Pericles explica que ainda se surpreende ao observar as semelhanças entre os filhos e ele. “É curioso quando percebo que até o modo como eles se coçam é igual ao meu. Eu me reconheço neles, eles são parte de mim”, conclui.

Pai em tempo integral
  
A vida de Reinaldo Rodrigues da Silva, de 41 anos, (primeira foto da matéria)  mudou com a chegada da filha Alice. Por causa de um acidente de carro, a esposa dele, Paula, teve uma gravidez de risco e precisava repousar. Quando a menina nasceu, a mãe ainda enfrentava algumas limitações. Reinaldo, então, saiu do emprego para cuidar da filha. “Ficava meio atrapalhado no começo. Na hora do banho, ficava preocupado de deixar a Alice cair, mas depois peguei o jeito. Aprendi a trocar fraldas e alimentá-la.” A família vive em Lagoa Nova (RN). Aos poucos, Reinaldo aprendeu a cozinhar, organizar a casa e lavar roupa. Ele passou a fazer várias atividades com a menina, que hoje tem 9 anos. “Voltei a ser criança. Brinco de casinha, ajudo na lição de casa. Conversamos bastante e lemos juntos. Somos amigos, eu a levo à escola, ao balé, à natação, à igreja, às aulas de violão”, explica. Reinaldo conta que é um privilégio participar da rotina da filha. “Sempre procurei ser um pai presente. Perdi meu pai num acidente de carro quando tinha 8 anos, sei o que é viver sem pai. É muito gratificante ter o tempo necessário para cuidar dela.” Segundo ele, a proximidade com Alice ajuda no fortalecimento dos valores da família. “Nós nos respeitamos muito. Alice é uma menina calma e observadora”, derrete-se.

Parceria e disciplina

O repórter cinematográfico Flávio Fernandes, de 43 anos, sempre participou ativamente da rotina dos filhos Leonardo, de 19 anos, (foto ao lado) e Flávia Gabriele, de 13 anos. “Temos diálogo e união. Conversamos e fazemos muitas atividades juntos. Eles me procuram para tirar dúvidas e pedir opiniões.” Leonardo confirma. “Não faço nada sem consultar meu pai. Ele é aquela pessoa que eu posso contar”, diz o jovem, que é estudante de Direito.  
Flávio explica que aprendeu a ser pai analisando as próprias experiências. “Eu não passo para eles só o que vivi com meu pai. Uso o que aprendo no dia a dia e tento corrigir alguns erros do passado.” O pai de Flávio, por exemplo, não o deixava andar de bicicleta durante a infância. “Andei escondido até os 13 anos. Já o Leonardo aprendeu a andar de bicicleta aos 3 anos. Colocamos joelheira, cotoveleira e ele foi. Levou alguns tombos, mas aprendeu rápido”, brinca. “Ainda me lembro de um dia em que ele me levou ao ginásio e andei de bicicleta o dia inteiro, cai, ralei o joelho, mas gostei muito”, explica Leonardo. Flávio diz que não abre mão da disciplina. “É importante ser amigo, parceiro, apoiar e orientar, mas não podemos deixar os filhos fazer tudo o que querem. Às vezes, o ‘não’ é a melhor escolha.” Ele garante que se transformou com a chegada dos filhos. “Eles preencheram o que faltava em mim. Sou muito feliz. É claro que tem preocupação, mas são muitos momentos de alegria”, afirma, acrescentando a importância da parceria com a esposa, Andrea, de 41 anos.

Educar por exemplo

Para o bispo Antonio Melo, ser pai é “uma bênção de Deus”. Entretanto, ele destaca que a paternidade exige responsabilidade e maturidade. “Ser pai requer muita atenção e dedicação. Não adianta querer educar com a força do braço, a melhor coisa é ser exemplo.” Ele pondera que até mesmo os pais mais preparados correm o risco de se decepcionar “por causa dos rumos da sociedade”. Pai de Priscila Machado, de 22 anos, o bispo destaca a força e a determinação da filha. “Vencemos muitas lutas e batalhas”, explica. “Vejo a Priscila como um presente de Deus. Hoje ela é casada e um exemplo para mim.”

Publicado em 01/05/2016 às 00:05. Por Rê Campbell


Nenhum comentário: