quarta-feira, 4 de maio de 2016

Show de horrores na votação do impeachment


A votação para decidir sobre o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que ocorreu na Câmara dos Deputados, no último dia 17, traz consequências tão ou bem mais sérias do que a resolução de afastamento da chefe do Executivo no Brasil. Dos 513 deputados previstos para votar, 367 foram favoráveis ao afastamento, 137 contra, dois se abstiveram e outros dois não compareceram. Mas, durante as seis horas e dois minutos, tempo que durou a votação, era possível ouvir justificativas das mais diversas para os votos favoráveis e contrários ao afastamento da presidente. Houve quem citasse Deus, outros que homenageavam seus filhos, esposas e familiares e também quem lembrasse líderes e figuras políticas do passado. Houve, ainda, aqueles que nem conseguiam se expressar por meio do português correto, inventando uma nova língua incompreensível.

Voto e prisão

Contudo, o que menos se ouviu foi deputados citando as pedaladas fiscais como motivo de acusação para o afastamento da presidente. Frases de efeito, algumas até inacreditáveis, foram ditas por muitos deputados. A deputada Raquel Muniz (PSD-MG) dedicou o seu voto ao marido, citando-o como exemplo de idoneidade. “O prefeito de Montes Claros (em Minas Gerais) mostra isso para todos nós com sua gestão”, disse. Entretanto, no dia seguinte, o prefeito Ruy Muniz foi preso preventivamente na operação Máscara da Sanidade II, deflagrada pela Polícia Federal.

Ofensas e cusparadas

Entre os episódios mais bizarros e vergonhosos figura o protagonizado pelos deputados Jair Bolsonaro (PSC-RJ), seu filho Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) e Jean Wyllis (PSOL-RJ). Primeiro, Jair Bolsonaro justificou seu voto homenageando o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores brasileiros, que chefiou o DOI-CODI, órgão de repressão, nos tempos da ditadura.

Além disso, Jair Bolsonaro proferiu palavras chulas e desrespeitosas a Jean Wyllis enquanto ele justificava o seu voto. Em um rompante de raiva e violência, Wyllis deu uma cusparada em Bolsonaro, afirmando que havia sido ofendido. Como se não bastasse, Eduardo revidou e cuspiu em Jean. Uma grande baixaria.

Vergonha internacional

Nas redes sociais, entre os comentários sobre a votação, a palavra “vergonha” foi uma das que mais apareceram. Ela foi utilizada mais de 270 mil vezes para descrever o que aconteceu na Câmara dos Deputados. E quem pensa que a votação repercutiu apenas no Brasil se engana. A imprensa internacional também retratou o assunto. O site do semanário alemão Die Zeit afirma que a votação na Câmara “mais parecia um carnaval” e que “uma pessoa desavisada que visse a sessão não poderia ter ideia da gravidade da situação”. Já para o Le Monde, da França, os deputados aproveitaram bem seus “10 segundos de celebridade”. Mas virar chacota em manchete de jornal internacional pode ter um lado positivo. A população brasileira viu a cara do deputado que a representa na Câmara Federal. Uma parte deles demonstrou, em vários momentos, por meio de suas falas e atitudes, que não merece estar lá. Agora, cabe a cada um decidir, nas próximas eleições, quem realmente é qualificado para representá-lo, votando com consciência para não errar novamente na escolha.

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