A votação para decidir sobre
o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que
ocorreu na Câmara dos Deputados, no último dia 17, traz consequências tão ou
bem mais sérias do que a resolução de afastamento da chefe do Executivo no
Brasil. Dos 513 deputados previstos para votar, 367 foram favoráveis ao
afastamento, 137 contra, dois se abstiveram e outros dois não compareceram.
Mas, durante as seis horas e dois minutos, tempo que durou a votação, era
possível ouvir justificativas das mais diversas para os votos favoráveis e
contrários ao afastamento da presidente. Houve quem citasse Deus, outros que
homenageavam seus filhos, esposas e familiares e também quem lembrasse líderes
e figuras políticas do passado. Houve, ainda, aqueles que nem conseguiam se
expressar por meio do português correto, inventando uma nova língua
incompreensível.
Voto e prisão
Contudo, o que menos se
ouviu foi deputados citando as pedaladas fiscais como motivo de acusação para o
afastamento da presidente. Frases de efeito, algumas até inacreditáveis, foram
ditas por muitos deputados. A deputada Raquel Muniz (PSD-MG) dedicou o seu voto
ao marido, citando-o como exemplo de idoneidade. “O prefeito de Montes Claros
(em Minas Gerais) mostra isso para todos nós com sua gestão”, disse.
Entretanto, no dia seguinte, o prefeito Ruy Muniz foi preso preventivamente na
operação Máscara da Sanidade II, deflagrada pela Polícia Federal.
Ofensas e cusparadas
Entre os episódios mais
bizarros e vergonhosos figura o protagonizado pelos deputados Jair Bolsonaro
(PSC-RJ), seu filho Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) e Jean Wyllis (PSOL-RJ).
Primeiro, Jair Bolsonaro justificou seu voto homenageando o coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores brasileiros, que chefiou o
DOI-CODI, órgão de repressão, nos tempos da ditadura.
Além disso, Jair Bolsonaro
proferiu palavras chulas e desrespeitosas a Jean Wyllis enquanto ele
justificava o seu voto. Em um rompante de raiva e violência, Wyllis deu uma
cusparada em Bolsonaro, afirmando que havia sido ofendido. Como se não
bastasse, Eduardo revidou e cuspiu em Jean. Uma grande baixaria.
Vergonha internacional
Nas redes sociais, entre os
comentários sobre a votação, a palavra “vergonha” foi uma das que mais
apareceram. Ela foi utilizada mais de 270 mil vezes para descrever o que
aconteceu na Câmara dos Deputados. E quem pensa que a votação repercutiu apenas
no Brasil se engana. A imprensa internacional também retratou o assunto. O site
do semanário alemão Die Zeit afirma que a votação na Câmara “mais parecia um
carnaval” e que “uma pessoa desavisada que visse a sessão não poderia ter ideia
da gravidade da situação”. Já para o Le Monde, da França, os deputados
aproveitaram bem seus “10 segundos de celebridade”. Mas virar chacota em
manchete de jornal internacional pode ter um lado positivo. A população
brasileira viu a cara do deputado que a representa na Câmara Federal. Uma parte
deles demonstrou, em vários momentos, por meio de suas falas e atitudes, que
não merece estar lá. Agora, cabe a cada um decidir, nas próximas eleições, quem
realmente é qualificado para representá-lo, votando com consciência para não
errar novamente na escolha.
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