quarta-feira, 20 de julho de 2016

Como dividir as contas entre o casal?


A administração da vida financeira do casal pode ser feita de várias formas, mas todas devem levar em conta uma regra básica: é preciso haver transparência entre os parceiros.

Tudo bem: o amor é importante. É um ingrediente imprescindível ao casamento. Só que ele não vem sozinho na equação para alcançar a felicidade conjugal. Se você acha que estamos falando da vida financeira do casal, acertou. Dinheiro é tão importante numa família que muitas vezes é fator crucial para sua plenitude ou sua ruína. Então, como encarar as finanças agora que o que era “meu” virou “nosso”?

Para começo de conversa, o início do casamento é marcado por grandes emoções. E é nelas que reside um grande perigo: crer que os sentimentos por si só bastam. Não há nada de errado em curtir essa fase, mas com os pés no chão, alerta o educador financeiro Ricardo Pereira, de São Paulo. “Ser emocional demais, tanto no começo do casamento quanto depois, leva a muitos erros. Um casal toma decisões em conjunto e tudo deve ser pesado para chegar a elas, com atenção a todos os detalhes, inclusive o dinheiro, para que a nova família tenha qualidade de vida”, orienta.

Passada aquela fase inicial do romantismo no namoro – que não é ruim, se curtida com inteligência –, é preciso partir para o lado mais prático. “Não dá para dizer ‘não sabia’ sobre construir uma família significar despesas”, aponta Pereira. “O dinheiro tem o poder de transformar o relacionamento, dependendo de como é administrado. O consultor financeiro e escritor Gustavo Cerbasi relatou em um de seus livros que 80% dos divórcios no Brasil acontecem por motivos financeiros. Infelizmente procede, pois muitos casais acham que quando as finanças vão mal o amor fica em segundo plano”, diz Pereira.

Não há uma fórmula

Então, como proceder para administrar as finanças a dois? Primeiro, cada casal deve conversar bastante e desenvolver uma estratégia que funcione para ele, segundo Pereira. Para ele, “dinheiro não pode ser motivo de conflito, que pode levar ao divórcio”. Ele diz que não há uma fórmula única que sirva para todas as famílias e, por isso, é preciso checar a realidade de cada uma delas.
É necessário conversar com muita franqueza sobre as perspectivas financeiras dos dois membros do casal. Pereira detalha que “deve-se analisar como cada um lida com o dinheiro. Se a administração puder ser feita de forma integrada, ela pode funcionar muito bem, desde que todas as informações estejam alinhadas, um sabendo o que o outro faz e daí vêm providências, como a conta conjunta no banco, os investimentos, tudo”. Mas para alguns casais funciona melhor quando cada pessoa cuida do seu dinheiro. Pereira não considera isso ruim. “Desde que, mesmo com contas separadas, haja sempre o diálogo de que falamos”, esclarece. O especialista cita outro aspecto a ser avaliado: não há nada de errado quando só um dos dois administra os bens e o dinheiro da família, se ele tem mais jeito. “Mas essa pessoa não pode concentrar só nela todas as decisões sem discuti-las com o cônjuge e deixá-lo de lado, sem participar”, aconselha.

“Infidelidade financeira”

Seja com conta conjunta, seja individual, seja com um ou os dois administrando, existem os objetivos comuns, o que exige transparência no trato financeiro. “Existe um termo chamado ‘infidelidade financeira’ entre um casal. Ela acontece quando um não sabe exatamente o que o outro faz com o dinheiro, seja só o dele, seja o dos dois”, explica Pereira. Ele dá a dica de ouro: sentar para conversar periodicamente. “Há casais que realizam uma conversa semanal para discutir cada aspecto do dinheiro e dos bens da família: o que entra, o que sai, quanto cada um dará para pagar as contas, quanto cada um terá para uso próprio, no que é preciso gastar, quanto investir, quanto os investimentos renderam, etc. É importante incluir na conversa também os sonhos, os objetivos, todos os aspectos positivos e não só os negativos. Outros fazem isso mensalmente porque têm menos tempo. É preciso ver que periodicidade é melhor para cada casal”, cita. Contudo, aborda um perigo: deixar isso sempre para depois ou nem fazer a reunião. “A realidade precisa ser mostrada, não dá para dizer que ‘não sabia’ sobre uma dívida, por exemplo, até que seja tarde demais”. Para ele, essa conversa não pode ser vista como um tabu, como algo que só acontece quando há algo ruim a ser discutido. “Deve ser algo normal, natural”, afirma.

E quando vêm os filhos?

Para alguns casais, tudo muda quando os filhos chegam. “Isso muda tudo”, avisa Pereira. E aproveita para salientar que “decidir ter um filho também não é algo que deve acontecer movido pela emoção, pela pura vontade de ser pai ou mãe. Isso vai mudar a forma como o dinheiro, o tempo e o trabalho são administrados e até as vidas de pessoas próximas. Um casal deve pesar muito sobre as finanças e se elas serão suficientes para que ter um filho não se torne sinônimo de dívidas”, analisa. Vale lembrar: despesa é uma coisa; dívida é outra. A primeira, se bem administrada, não vira a segunda.


Se a decisão do casal for ter filhos, como fazer para que eles também participem do planejamento financeiro da família? O especialista responde: “se uma criança vê os pais se reunirem para ver como vão as finanças e para tomarem as decisões juntos, isso fica em sua mente, é uma experiência muito útil futuramente, em sua vida adulta”, relata. Crianças estão o tempo todo ligadas ao que acontece à sua volta e percebem quando os pais falam uma coisa e fazem outra. “Vendo o pai e a mãe administrarem as finanças e agirem de forma inteligente, eficiente, de acordo com a realidade da família e não conforme as pressões sociais, tratar de dinheiro também será para o filho algo natural, que ele fará quando começar a administrar sua mesada, por exemplo. Há algo que é bem claro: os exemplos dos pais falarão mais alto que meras palavras”, finaliza o educador financeiro.

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