Crianças
que não passam pelo processo de aprender a escrever à mão posteriormente
apresentam dificuldades na capacidade de ler e entender textos, algo muito
importante para o desenvolvimento cognitivo, segundo cientistas norte-americanos.
Com o rápido crescimento do uso de tablets, smartphones e laptops, as canetas,
os lápis e similares perdem cada vez mais terreno, o que aumenta esse risco.
Isso é o que ocorre com a chamada “geração tablet”, as crianças de hoje que
desde muito cedo têm acesso a dispositivos eletrônicos – e muitas têm seu
primeiro contato com as letras por meio dessas telas.
Especialistas
de universidades dos Estados Unidos, como as de Indiana e Washington, e a
Florida International realizaram escaneamentos cerebrais de crianças que ainda
não escrevem e os compararam aos feitos em algumas no começo do processo de
aprendizado da escrita e em outras que já escrevem, bem como em adultos. Além
disso, analisaram as consequências práticas na vida dos pesquisados.
É
comum que, ao apreendermos a ler, tenhamos primeiro contato com as letras de
forma (ou bastão) e de imprensa, para só depois de entender como elas se juntam
para formar palavras e sons avançarmos para o aprendizado da letra cursiva,
também chamada “letra de mão”, que aos poucos se adapta à personalidade de quem
a escreve.
E
é exatamente esse processo de sair das letras de imprensa para a cursiva que
desencadeia um processo de aprendizado que fará a diferença para o resto da
vida. As letras de mão geralmente são conectadas umas às outras nas palavras,
literalmente ligadas, e não só próximas, como na de imprensa, e juntá-las
desenvolve justamente a capacidade de conectar informações, encadeando-se as
letras, as palavras e chegar ao resultado da informação que está escrita, o que
providencia o entendimento do sentido do texto. Em suma: aprender a conectar as
letras leva a conectar os dados lidos.
Os
cientistas observaram, inclusive, que só digitar as palavras num teclado físico
ou virtual não causa o mesmo efeito de desenvolver a conexão dos dados do
texto: o que vale mesmo é aprender a escrever com lápis, giz, canetas e tudo
mais que sirva para riscar as letras. Como divulgou a equipe da Universidade de
Washington em sua pesquisa, a criança primeiro “desenha” na mente a letra que
vai produzir depois no papel. Isso ativa – e exercita – no cérebro, ao mesmo
tempo, importantes regiões responsáveis pelas funções de planejamento e
controle motores, juntamente com as que se relacionam à linguagem e à percepção
visual.
É
justamente na época pré-escolar e da alfabetização que, segundo os
pesquisadores, a criança tem o importante contato com as tarefas que a levarão
a desenvolver a coordenação cognitiva, motora e neuromuscular unidas. Tudo isso
se liga e tem efeito no aprendizado ao longo de toda a vida da pessoa.
Ler sem entender
Só
que, com o avanço rápido das bugigangas eletrônicas, há crianças e adolescentes
que mandam muito bem ao digitar rapidamente teclas ou telas para escrever algo,
mas apresentam uma certa ineficiência em entender o sentido de alguns textos,
inclusive os que elas mesmas escrevem. Justamente por não terem exercitado a
escrita com lápis e caneta anteriormente. Queimar essa etapa, ou cumprí-la
“empurrando com a barriga” pode gerar prejuízos intelectuais e profissionais no
presente e no futuro dos pequenos.
Por
isso mesmo, aquelas atividades para se desenvolver uma letra bonita, ou seja, a
arte da caligrafia, são mais importantes do que pensamos e não apenas um
capricho estético. As telas e teclas devem ser usadas para escrever só depois
que os pequenos já dominarem bem a escrita à mão, para não haver a citada
lacuna na capacidade de aprendizado.
Diz-se
muito nos ramos profissionais ligados à escrita – jornalismo, literatura,
publicidade e outros – que “quem não lê bem não escreve bem”. Os cientistas
agora provaram que o contrário também pode ser verdade, num círculo virtuoso.
Por
essas e outras, pense bem antes de jogar sem pensar nas mãos da meninada os
tablets, celulares e laptops só para que ela se distraia e o deixe em paz. Sim,
esses aparelhos oferecem atividades interessantes e instrutivas, mas não devem
apagar o interesse natural que um simples lápis e as folhas de papel ainda
despertam em qualquer criança e, acima de tudo, em uma idade tão determinante
para seu desenvolvimento.
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