sábado, 16 de julho de 2016

Pequenos da "geração tablet"


Crianças que não passam pelo processo de aprender a escrever à mão posteriormente apresentam dificuldades na capacidade de ler e entender textos, algo muito importante para o desenvolvimento cognitivo, segundo cientistas norte-americanos. Com o rápido crescimento do uso de tablets, smartphones e laptops, as canetas, os lápis e similares perdem cada vez mais terreno, o que aumenta esse risco. Isso é o que ocorre com a chamada “geração tablet”, as crianças de hoje que desde muito cedo têm acesso a dispositivos eletrônicos – e muitas têm seu primeiro contato com as letras por meio dessas telas.

Especialistas de universidades dos Estados Unidos, como as de Indiana e Washington, e a Florida International realizaram escaneamentos cerebrais de crianças que ainda não escrevem e os compararam aos feitos em algumas no começo do processo de aprendizado da escrita e em outras que já escrevem, bem como em adultos. Além disso, analisaram as consequências práticas na vida  dos pesquisados.

É comum que, ao apreendermos a ler, tenhamos primeiro contato com as letras de forma (ou bastão) e de imprensa, para só depois de entender como elas se juntam para formar palavras e sons avançarmos para o aprendizado da letra cursiva, também chamada “letra de mão”, que aos poucos se adapta à personalidade de quem a escreve.

E é exatamente esse processo de sair das letras de imprensa para a cursiva que desencadeia um processo de aprendizado que fará a diferença para o resto da vida. As letras de mão geralmente são conectadas umas às outras nas palavras, literalmente ligadas, e não só próximas, como na de imprensa, e juntá-las desenvolve justamente a capacidade de conectar informações, encadeando-se as letras, as palavras e chegar ao resultado da informação que está escrita, o que providencia o entendimento do sentido do texto. Em suma: aprender a conectar as letras leva a conectar os dados lidos.

Os cientistas observaram, inclusive, que só digitar as palavras num teclado físico ou virtual não causa o mesmo efeito de desenvolver a conexão dos dados do texto: o que vale mesmo é aprender a escrever com lápis, giz, canetas e tudo mais que sirva para riscar as letras. Como divulgou a equipe da Universidade de Washington em sua pesquisa, a criança primeiro “desenha” na mente a letra que vai produzir depois no papel. Isso ativa – e exercita – no cérebro, ao mesmo tempo, importantes regiões responsáveis pelas funções de planejamento e controle motores, juntamente com as que se relacionam à linguagem e à percepção visual.

É justamente na época pré-escolar e da alfabetização que, segundo os pesquisadores, a criança tem o importante contato com as tarefas que a levarão a desenvolver a coordenação cognitiva, motora e neuromuscular unidas. Tudo isso se liga e tem efeito no aprendizado ao longo de toda a vida da pessoa.

Ler sem entender

Só que, com o avanço rápido das bugigangas eletrônicas, há crianças e adolescentes que mandam muito bem ao digitar rapidamente teclas ou telas para escrever algo, mas apresentam uma certa ineficiência em entender o sentido de alguns textos, inclusive os que elas mesmas escrevem. Justamente por não terem exercitado a escrita com lápis e caneta anteriormente. Queimar essa etapa, ou cumprí-la “empurrando com a barriga” pode gerar prejuízos intelectuais e profissionais no presente e no futuro dos pequenos.

Por isso mesmo, aquelas atividades para se desenvolver uma letra bonita, ou seja, a arte da caligrafia, são mais importantes do que pensamos e não apenas um capricho estético. As telas e teclas devem ser usadas para escrever só depois que os pequenos já dominarem bem a escrita à mão, para não haver a citada lacuna na capacidade de aprendizado.

Diz-se muito nos ramos profissionais ligados à escrita – jornalismo, literatura, publicidade e outros – que “quem não lê bem não escreve bem”. Os cientistas agora provaram que o contrário também pode ser verdade, num círculo virtuoso.

Por essas e outras, pense bem antes de jogar sem pensar nas mãos da meninada os tablets, celulares e laptops só para que ela se distraia e o deixe em paz. Sim, esses aparelhos oferecem atividades interessantes e instrutivas, mas não devem apagar o interesse natural que um simples lápis e as folhas de papel ainda despertam em qualquer criança e, acima de tudo, em uma idade tão determinante para seu desenvolvimento.

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