Sempre que um homem se vê em posse de um recurso favorável, ele deve ser maior do que essa dádiva. Caso não a domine, será dominado por ela. Pode ser qualquer coisa: poder, dinheiro, beleza, carisma, inteligência, força física... Se qualquer uma cair nas mãos de alguém de caráter fraco, o destino será o abismo.
Sim, é irônico: o cara se dá mal justamente por causa de coisas boas, pois não teve o discernimento correto para conduzi-las. Mas também há o caso de indivíduos que já possuíam caráter, mas foram corrompidos por deixar que essas dádivas lhes subissem à cabeça.
O livro de Juízes, na Bíblia, conta a história de um sujeito bem famoso no quesito força física, bastante conhecido até de quem nem lê as Escrituras: Sansão. Aquele mesmo, o cabeludo fortão que era um dos líderes de seu povo e seu maior campeão na época.
Mas os filisteus, inimigos declarados de Sansão, não engoliam as sucessivas derrotas sofridas para ele. Queriam saber de onde vinham a força e a determinação daquele guerreiro até então imbatível. Resolveram, então, jogar a isca certa: Dalila, sedutora mulher de reconhecida beleza.
Nosso amigo Sansão tinha “um fraco” pelas mulheres. Não lhe era difícil conquistar muitas, com seu porte físico invejável e sua fama de vencedor. E não escondia isso de ninguém. Esse foi seu primeiro buraco na defesa de sua vida. Os filisteus resolveram explorar aquela brecha e convocaram Dalila para fazer o inimigo abrir seu coração e revelar de onde vinha seu vigor.
Até que a venenosa femme fatale, com seus encantos sensuais e sexuais, conseguiu abrir o coração daquele guerreiro e ele contou a famosa história de que em sua farta cabeleira estava a força, proveniente da aliança que tinha com Deus. Não que o poder estivesse fisicamente nos fios do cabelo daquele homem, mas eles eram o símbolo de seu compromisso com o Criador.
De tão forte, Sansão começou a se achar “o tal”. Ficou convencido a ponto de se entregar a uma mulher de um povo idólatra, mau, mundano. Deixou de confiar em Deus, que lhe dava forças, e depositou seu coração nas mãos de outro ser humano, uma mulher que o enfeitiçou com sedução. Deu mais valor ao que tinha com Dalila do que ao que tinha com Deus. Mas ficou sem os dois.
Sujou sua vida com as facilidades do mundo, as tentações, as falsas honrarias e aquilo tudo desgastou aos poucos a aliança dele com Deus. Sem Deus, virou alguém vulnerável. Os filisteus não bobearam: cortaram os cabelos do cara, furaram seus olhos. Levaram-no para todo lado como um troféu de guerra, um animal, humilhado.
Só aí Sansão acordou para a besteira que custou tudo o que havia conquistado. E, podendo pensar nisso, refez aos poucos sua aliança com Deus, às escondidas. E o final todo mundo sabe: no auge de sua humilhação, exterminou aqueles que o subestimavam. Já não fazia propaganda de seu vigor, mas exercitava-o interna e secretamente todos os dias. Contudo, morreu junto com os inimigos.
Pense bem se você é maior do que seus dons. Eles lhe foram dados por um motivo maior do que sua satisfação pessoal. Se mal utilizados, “babau”. E o domínio dessa força deve ser exercitado todos os dias, pouco a pouco, com cuidados também diários para não ceder ao próprio ego. Você é um valioso veículo para a força que lhe é mandada. Mas o caminho que ela toma depende de sua atitude.
Se achar “demais” será a porta que se abrirá para as Dalilas” da vida, humanas ou não.
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